Rimini 2025: “a paz não pode ser fruto da força”, afirma cardeal Zuppi

Rimini 2025: “a paz não pode ser fruto da força”, afirma cardeal Zuppi

Religião

“O perdão e a justiça constroem concretamente a paz”: assim afirmou o arcebispo de Bolonha e presidente dos bispos italianos, cardeal Matteo Zuppi, que chegou à 46ª edição do “Encontro pela Amizade entre os Povos”. A entrevista foi realizada por Andrea Tornielli, diretor editorial da mídia vaticana; Massimiliano Menichetti, vice-diretor editorial da mídia vaticana e responsável pela Rádio Vaticano – Vatican News; e Andrea Monda, diretor do jornal vaticano “L’Osservatore Romano”.

Guglielmo Gallone – Rimini

“A oração abre caminho para entrar na história. Porque ela não é o último recurso. É o primeiro. É o ponto de partida, é aquela que se torna escolha, solidariedade, atenção, proximidade. Eis uma das muitas heranças do Papa Francisco e que o Papa Leão retomou com a mesma insistência: não existe classificação dos conflitos. São todos pedaços de uma única guerra, são todos mundiais”: essas são as palavras pronunciadas pelo arcebispo de Bolonha, o cardeal Matteo Maria Zuppi, em uma entrevista à mídia vaticana. O presidente da Conferência Episcopal Italiana chegou na manhã deste domingo (24/08) ao Encontro de Rimini e, pouco antes da celebração da missa, visitou o estande da mídia vaticana e conversou com Andrea Tornielli, diretor editorial da mídia vaticana; Massimiliano Menichetti, vice-diretor editorial da mídia vaticana e responsável pela Rádio Vaticano – Vatican News; e Andrea Monda, diretor do jornal vaticano “L’Osservatore Romano”.

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“Nos lugares desertos construiremos com tijolos novos”

E foi justamente no título da 46ª edição do Encontro organizado pelo movimento italiano Comunhão e Libertação, “Nos lugares desertos construiremos com tijolos novos”, que o cardeal Zuppi se concentrou desde o início, destacando como “deserto e tijolo são termos que nos ajudam a compreender a situação que vivemos hoje. Um deserto terrível, provocado pelas escolhas dos homens e capaz de gerar sofrimento, arruinar relacionamentos, matar. E depois, porém, há os tijolos. Isso me parece uma indicação importante: neste ano jubilar da esperança, precisamos compreender que somos tijolos, que podemos ser tijolos, que há algo novo se nos confrontarmos com o deserto”. Eis, então, o sentido do verdadeiro Jubileu que, precisa Zuppi, “é verdadeira renovação. Na sexta-feira (22/08), aderimos e vivemos um dia de jejum e oração que nos havia sido pedido dois dias antes pelo Papa Leão pela paz”.

Os esforços concretos pela paz

São precisamente estes, entre a oração e o jejum, os esforços concretos que devem ser feitos para promover a paz. Mas não são os únicos. Nestes dias de Meeting em Rimini, as verdadeiras protagonistas foram as histórias de reconciliação e perdão: a história de duas mães, uma israelense e uma palestina, que hoje buscam juntas a paz para seus povos; a história dos 19 mártires cristãos da Argélia, assassinados em 1994. “São esses os testemunhos a partir dos quais se pode começar a reconstruir, na esperança de que certas palavras não apenas comovam, mas também levem ao encontro, ao diálogo, à escolha do caminho da reconciliação e não da guerra”, comentou Zuppi, que depois quis lembrar a atenção da Igreja a todos os tipos de guerra: “dou o exemplo do Sudão do Sul, um conflito que dura há décadas, mas pelo qual o Papa Francisco se ajoelhou, beijando os pés para implorar pelo fim do conflito. Porque também esta é uma guerra mundial”.

Cardeal Zuppi: “a paz não pode ser fruto da força”

Não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão

Na verdade, é precisamente a arma do perdão que herdamos das grandes figuras da história. Foi o que lembrou o diretor Andrea Monda, citando Nelson Mandela, enquanto o diretor Andrea Tornielli citou as palavras proféticas da mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2002, que João Paulo II publicou pouco depois dos ataques terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos. Enquanto todos pensavam na guerra “preventiva”, na onda da enormidade do ataque sofrido, o Pontífice quis dizer que “não há paz sem justiça, não há justiça sem perdão”.

No entanto, observou o cardeal Zuppi, “hoje tenho a impressão de que estamos um pouco fracos em tudo. Não há paz, há pouco perdão, raramente buscamos a justiça. Esquecemos que a prisão da qual não se pode fugir é aquela que construímos pensando que estamos seguros ou bem: na realidade, estamos construindo um inferno ao nosso redor. Devemos esperar exatamente o contrário. O perdão ajuda. Ajuda quem cometeu o crime, o delito, a ofensa, mas acima de tudo liberta quem o sofreu. Só uma busca tão obstinada pela paz, pela justiça e pelo perdão pode tornar certos desertos o que o Senhor quer: um jardim onde todos possam viver”.

Estamos fazendo tudo o que podemos?

Mais ainda, um jardim do qual nenhum ser humano pode ser afastado. Isso foi reiterado pelo Papa Leão XIV quando, ao receber em audiência a delegação do “Chagos Refugees Group” da República de Maurício, disse que “todos os povos, mesmo os mais pequenos e os mais fracos, devem ser respeitados pelos poderosos em sua identidade e em seus direitos, em particular o direito de viver em suas próprias terras; e ninguém pode forçá-los a um exílio forçado”. Palavras que não se referem explicitamente ao Oriente Médio, mas que não podem deixar de nos fazer pensar na situação atual em Gaza.

Estamos fazendo tudo o que é possível, em todos os níveis, para tentar impedir o que está acontecendo? “Essa é uma grande questão, ligada à inquietação, sobre a qual nunca devemos deixar de nos interrogar”, refletiu o cardeal Zuppi. “O Papa Francisco, durante sua viagem à Hungria, perguntou a si mesmo e às Igrejas se tínhamos feito tudo o que era possível pelos conflitos em curso no mundo. Depois, perguntou-se o que teria acontecido à paz criativa: a diplomacia é capaz de encontrar fórmulas para tornar a paz possível? Em 4 de outubro de 2025, completam-se 60 anos daquele discurso extraordinário que São Paulo VI proferiu nas Nações Unidas, no qual apresentou uma perspectiva: a paz não pode ser fruto da força. A força é perigosa, assim como a ideia de que o mais forte comanda ou que prevalece um equilíbrio entre os fortes. É claro que a ONU precisa fazer algumas mudanças, mas não podemos recuar. Porque se a guerra é mundial, isso significa que ela nos interessa, que nos envolve, chegando até onde você está. Não é algo opcional. É uma emergência que envolve cada um de nós”.

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