No III Encontro Mundial sobre Fraternidade Humana, dignidade e fraternidade foram as palavras-chave de dois dias de debate em Roma. Prêmios Nobel, líderes religiosos, jornalistas e acadêmicos compartilharam ideias e práticas para um futuro de paz: um processo sinodal aberto aos desafios do presente, do meio ambiente à IA. “A fraternidade não é uma ideia abstrata, mas uma prática que devolve ao outro o seu rosto”, lembrou o cardeal Gambetti no encerramento da “Assembleia do Humano”.
Fausta Speranza – Vatican News
O conceito de dignidade é o primeiro “espaço” de reflexão identificado no III Encontro Mundial sobre Fraternidade Humana, promovido pela Basílica de São Pedro, pela Fundação Fratelli tutti e pela associação Be Human, que nos últimos dois dias transformou Roma em um laboratório ideal do humano: 450 pessoas para falar sobre recursos, 100 administradores locais, cerca de 30 Prêmios Nobel, 15 mesas temáticas, um debate entre representantes dos principais jornais mundiais; empresários, economistas, acadêmicos, operadores sociais, estudantes, esportistas, líderes espirituais que se reuniram para coletar boas práticas, compartilhar experiências e propor ações concretas.
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“Ser humano significa não se deixar seduzir pelo poder, mas preservar a dignidade; não submeter a verdade aos interesses, mas viver a verdade que liberta; não explorar a terra como uma mina, mas preservá-la como nossa casa comum”. Foram as palavras do cardeal Mauro Gambetti, arcipreste da Basílica de São Pedro e presidente da Fábrica de São Pedro, ao encerrar o encontro no Capitólio na manhã deste sábado, 13 de setembro, o último debate antes do evento internacional “Grace for the World” da noite na Praça de São Pedro, que teve apresentações de Andrea Bocelli, Pharrell Williams com o coro Voices of Fire, John Legend e o coro da Diocese de Roma, Karol G., além de um espetáculo de luzes e drones inspirado na Capela Sistina.
Um processo sinodal sobre o humano
Não há um documento conclusivo e a escolha é significativa: não se querem estabelecer pontos fixos, mas, pelo contrário, continuar “um processo sinodal sobre o humano”. O cardeal Gambetti esclarece: “a fraternidade não é uma ideia abstrata, mas uma prática que devolve ao outro o seu rosto, que transforma os conflitos em energias criativas, que torna verdadeira a liberdade e justa a igualdade”. A primeira consciência é que “não basta fazer diagnósticos, o mundo não precisa de análises estéreis: precisa de terapias, de cura, de confiança, de fraternidade concreta”. O contexto é claro: “vivemos uma época em que a técnica corre mais rápido que a consciência, em que a verdade se dobra às manipulações e em que a pessoa corre o risco de ser reduzida a um algoritmo ou a um perfil de consumo”. Mas sempre há espaço para possibilidades, sugere o cardeal Gambetti ao falar da “capacidade de resistir, de inovar, de criar pontes” e de olhar para o futuro a partir desta nova etapa.
Vozes do mundo por uma comunicação verdadeira
Em particular, a jornalista filipina naturalizada americana Maria Ressa, galardoada com o Prêmio Nobel da Paz pela sua luta em favor da liberdade de expressão e contra o flagelo da desinformação, pede que se ponha fim à vigilância digital e ao preconceito codificado, em prol de uma comunicação mais autêntica. Ela nos diz que aprecia muito a “Assembleia do Humano”, onde as pessoas podem se encontrar, se conhecer e planejar juntas porque, ela reitera, “o futuro que queremos passa pela verdade e pela ação humana, e um jornalismo da verdade e um diálogo da verdade são fundamentais”.
O desafio da IA e a fraternidade como bússola
Obviamente, o tema da inteligência artificial é central, representando um “território novo” que o Papa Leão já deixou claro que deseja “atravessar” para dar continuidade à atenção da Igreja às questões sociais. A Igreja coloca em campo, antes de tudo, o princípio da fraternidade que – nos lembra o Pe. Occhetta – “significa uma inteligência relacional que sempre tem o outro como objetivo e permite que o demos e o kratos, ou seja, o povo e o poder, encontrem seu equilíbrio, porque – adverte – quando o poder não ouve o povo, ele o utiliza e o manipula, enquanto que, quando o ouve, pode servi-lo”. Com esse espírito, ainda são possíveis democracias e desenvolvimento. O fórum sobre fraternidade e todas as outras iniciativas que vão nessa direção, e pelas quais a Igreja fala de sinodalidade, querem representar uma plataforma de diálogo e encontro para “uma linguagem que se torne cultura de paz”.
O desafio também para a Igreja não é pequeno, admite o Pe. Occhetta, citando “liberdade e consciência”. Trata-se, de fato, de “estar consciente do que se faz e ter uma consciência moral madura para poder entrar, dialogar e compreender os desafios que a inteligência artificial nos coloca, porque, caso contrário, a absorção da consciência levaria a pessoa a fazer o que nos é dito”. Com potenciais consequências dramáticas.
Diferentes, mas Irmãos e Irmãs
Apesar das teorias pós-humanas, transumanas, da suposta superação do conceito de moralidade, que surgem em cantos do mundo que chegam ao centro das atenções, as 140 pessoas reunidas na Sala Orazi e Curiazi, representando todas as mesas de debate, enviam uma mensagem clara em defesa da humanidade. O caminho continua, aproveitando os frutos colhidos também nesta terceira etapa, nascida de um primeiro compromisso preciso: a assinatura, em 11 de junho de 2023, em São Pedro, de uma declaração assinada pela Santa Sé pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, que reafirmava: “somos diferentes, temos culturas e religiões diferentes, mas somos irmãos e queremos viver em paz”.