Foto de Arquivo: Lula na reunião ministerial de 26 de agosto
Reuters/Adriano Machado/File Photo
Em artigo publicado neste domingo (14) no jornal norte-americano “The New York Times”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou uma mensagem ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmando que o Brasil está disposto a negociar, mas que a “soberania e democracia são inegociáveis” ao Brasil.
“Presidente Trump, continuamos abertos a negociar qualquer coisa que possa trazer benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em pauta”, escreveu Lula, em tradução livre.
“Em seu primeiro discurso à Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 2017, o senhor afirmou que ‘nações fortes e soberanas permitem que países diversos, com valores, culturas e sonhos diferentes, não apenas coexistam, mas trabalhem lado a lado com base no respeito mútuo'”.
“É assim que vejo a relação entre o Brasil e os Estados Unidos: duas grandes nações capazes de se respeitarem mutuamente e cooperarem para o bem de brasileiros e americanos”.
O artigo foi publicado pouco mais de dois meses depois de Trump impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, sem abrir espaço para negociação. O tarifaço entrou em vigor em 6 de agosto, mas com uma lista de exceções.
Ao justificar a elevação da taxa, Trump disse, em carta endereçada a Lula, que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) era “uma vergonha internacional”.
No artigo deste domingo, Lula defendeu a atuação do Supremo, que condenou Bolsonaro e outros sete réus pela atuação na trama golpista após as eleições de 2022.
“Não se tratou de uma ‘caça às bruxas’. O julgamento foi resultado de procedimentos conduzidos em conformidade com a Constituição Brasileira de 1988, promulgada após duas décadas de luta contra uma ditadura militar”, disse Lula.
“A decisão foi tomada após meses de investigações que revelaram planos para assassinar a mim, ao vice-presidente e a um ministro do Supremo Tribunal Federal. As autoridades também descobriram um projeto de decreto que teria efetivamente anulado os resultados das eleições de 2022”, acrescentou.
Ainda no artigo, Lula reconheceu que a reindustrialização e a recuperação de empregos nos EUA são objetivos legítimos, mas criticou a adoção de medidas unilaterais, classificando-as como “remédios equivocados”.
“O aumento tarifário imposto ao Brasil não é apenas equivocado, mas ilógico”, escreveu.
Big techs e PIX
No artigo, Lula também criticou a administração Trump de ter acusado o “sistema de Justiça brasileiro de perseguir e censurar empresas de tecnologia americanas”
“Essas alegações são falsas. Todas as plataformas digitais, sejam nacionais ou estrangeiras, estão sujeitas às mesmas leis no Brasil”, escreveu.
“É desonesto chamar de censura a regulação, sobretudo quando o que está em jogo é a proteção de nossas famílias contra fraudes, desinformação e discurso de ódio. A internet não pode ser uma terra sem lei, onde pedófilos e abusadores tenham liberdade para atacar nossas crianças e adolescentes”, acrescentou.
Em outro ponto do artigo, Lula defende o PIX.
Isso porque, em julho, o governo americano abriu uma investigação sobre práticas comerciais do Brasil, afirmando, dentre várias coisas, que o PIX prejudica sistemas de pagamento de grandes empresas dos EUA.
“Ao contrário de prejudicar operadores financeiros dos EUA, o sistema de pagamentos digitais brasileiro, o PIX, possibilitou a inclusão financeira de milhões de cidadãos e empresas”, disse Lula.
“Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro que facilita transações e estimula a economia.”
Desmatamento
Na mesma investigação, a administração de Trump disse que “o Brasil aparentemente não está fazendo cumprir de maneira eficaz as leis e regulamentações destinadas a combater o desmatamento ilegal”.
Sobre isso, Lula disse que, nos últimos dois anos, o Brasil reduziu “pela metade a taxa de desmatamento na Amazônia”.
“Somente em 2024, a polícia brasileira apreendeu centenas de milhões de dólares em bens usados em crimes ambientais”.
“Mas a Amazônia continuará em risco se outros países não fizerem sua parte para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O aumento das temperaturas globais pode transformar a floresta em savana, alterando o regime de chuvas em todo o hemisfério, inclusive no Meio-Oeste americano”, afirmou.
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