O combate à seca no Nordeste brasileiro é uma pauta histórica e urgente, que há décadas exige ações eficazes, sustentáveis e apartadas de interesses político-partidários. No entanto, a recente execução do programa do governo Lula para enfrentar esse problema escancara uma velha prática: a instrumentalização da máquina pública para favorecer organizações próximas ao poder, enquanto as populações afetadas seguem à margem das promessas.
Dados revelam que 85% dos recursos federais destinados ao combate à seca foram repassados a ONGs com vínculos com o Partido dos Trabalhadores (PT). Trata-se de uma concentração alarmante, que gera suspeitas legítimas sobre a real finalidade do programa. É inaceitável que uma política pública dessa magnitude esteja tão fortemente atrelada a um único espectro político, ferindo o princípio da impessoalidade na administração pública.
Segundo apuração do jornal O Globo, a Associação Um Milhão de Cisternas para o Semiárido (P1MC), presidida por dois petistas filiados ao partido desde 1987, recebeu R$ 640,1 milhões em 2023 — o equivalente a praticamente todo o orçamento de R$ 755,8 milhões do programa. Além disso, a entidade subcontratou outras 37 ONGs, muitas também vinculadas ao PT, que receberam juntas R$ 152 milhões. O modelo de contratação, que prioriza entidades com experiência no setor, acaba sendo terreno fértil para a concentração de recursos em mãos ideologicamente alinhadas ao governo.
Não se trata de demonizar o terceiro setor, que tem papel relevante em diversas frentes sociais. O problema reside na falta de critérios técnicos e na evidente falta de pluralidade nas parcerias firmadas. Ao privilegiar entidades alinhadas ao partido, o governo fecha as portas para outras instituições, inclusive municipais e privadas, que poderiam oferecer soluções inovadoras e mais próximas da realidade local.
Enquanto isso, comunidades do semiárido nordestino continuam enfrentando escassez de água, insegurança alimentar e precariedade em infraestrutura. As promessas de cisternas, poços artesianos e sistemas de irrigação muitas vezes ficam só no papel. O que se vê é um modelo de gestão centralizado, pouco transparente e, sobretudo, ineficaz no que mais importa: garantir água e dignidade à população.

A justificativa oficial é que essas ONGs têm “experiência acumulada” e “reconhecimento regional”. Ora, se a expertise dessas entidades fosse proporcional aos recursos que recebem, a seca já teria sido, no mínimo, mitigada. O que se observa, ao contrário, é a perpetuação da dependência e da miséria — cenário que, por ironia, acaba alimentando politicamente aqueles que dizem lutar contra ele.
Mais grave ainda é a ausência de fiscalização rigorosa e de metas claras para a execução dos projetos. O governo Lula tem evitado mecanismos mais transparentes, como editais amplos ou parcerias com estados e municípios, o que impede a avaliação comparativa dos resultados. A centralização dos recursos em entidades “do círculo íntimo” mina a confiança pública e enfraquece o controle social.
Essa prática reincidente do PT, o uso de políticas sociais como plataforma eleitoral — precisa ser denunciada. É um desrespeito com o dinheiro do contribuinte e uma traição aos milhões de brasileiros que dependem de políticas públicas sérias. O combate à seca deveria unir o país, não ser transformado em moeda de troca política.
O Brasil precisa de um novo pacto pela água no semiárido, com critérios técnicos, ampla concorrência entre projetos, transparência na aplicação dos recursos e prioridade para os resultados. A seca não tem partido, nem pode servir de palanque. O que está em jogo é a vida de milhões de brasileiros e animais, e isso exige responsabilidade acima de qualquer viés ideológico.
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