10 livros importantes (e chatos) que leitor dispensa com prazer e sem nenhuma vergonha

Atualidades

João Paulo de Oliveira Filho

Especial para o Jornal Opção

1

Finnegans Wake, de James Joyce

Os professores de literatura estão ocupados com o “romance” — talvez não-romance — há 86 anos. Até agora não conseguiram decifrá-lo. Precisam de pelo menos mais 300 anos. Não se trata de livro para leitores comuns, que adoram uma boa obra literária. É livro para exegese de acadêmicos… universitários. Pouca gente leu. Dos que lerem ao menos 90% não entenderam.

2

Ulisses, de James Joyce

Perto de “Finnegans”, “Ulisses” é quase “Polyanna Moça”. Ainda assim, retirando a brincadeira do ar, é uma pedreira. É provável que Anthony Burgess só o tenha entendido depois de ler a biografia escrita por Richard Ellmann (leitores brasileiros podem consultar o fabuloso guia de leitura de Caetano Galindo). É romance para ser discutido entre acadêmicos, não por leitores dito comuns (que são os verdadeiros leitores).

3

Catatau, de Paulo Leminski

Os imitadores sempre estragam as obras originais e as suas próprias. O escritor paranaense misturou James Joyce com Rabelais e resultou numa sopa de letras intragável. É livro de autor que, no trajeto literário, perdeu as pilastras e a arquitetura literária ruiu. É romance mais para ser citado do que lido.

4

Em Busca de Tempo Perdido, de Marcel Proust

Pense no Himalaia. Pensou? Pense no Everest. Pensou? Pois a leitura de Proust é como escalar uma montanha sem ter frequentado aulas de alpinismo durante 20 anos. Proust escreve bem, é certo. Mas quem é que, falando a verdade, consegue “atravessar” aqueles parágrafos e períodos longuíssimos? Ninguém, mas é chique dizer que Marcel é o máximo. E é, mas não para o leitor comum, que gosta mesmo é de Stevenson (Borges o venerava), Agatha Christie, Simenon, Chandler, Hammett e Highsmith — gênios literários que escreviam com uma clareza ímpar.

5

O Som e a Fúria, de William Faulkner

Uma dica: leia, do mesmo autor, “Enquanto Agonizo”, que é muito melhor e, sobretudo, legível. “O Som e a Fúria” foi exercício de Faulkner para se tornar conhecido como o Joyce “americano”. Não é ruim, claro. Mas, para 99% dos leitores não acadêmicos, é ilegível. Do que o autor está mesmo falando? Ninguém sabe. Esta história de que linguagem é personagem é baboseira.

6

O Amor nos Tempos do Cólera

Corra, urgente, para “Cem Anos de Solidão”, que é muito melhor e mais divertido. Se ao término da leitura do romance, o leitor não estiver com cólera — a ira, e não a doença —, deve ir ao psiquiatra buscar seu atestado de insanidade. O livro não vale as primeiras duas páginas do soberbo “Ninguém Escreve ao Coronel”, espécie de Ulisses, o da “Odisseia”, que não sai do lugar.

7

Avalovara, de Osman Lins

Se você conseguiu ler pode encomendar vaga no Céu e na Academia Brasileira de Letras. É romance para quem fez doutorado e pós-doutorado em literatura em Yale ou na Sorbonne. Quem não é especialista e tenta lê-lo acaba por ser internado em clínica de repouso com spar.

8

Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa

Version 1.0.0

De cada dez pessoas que citam o romance ao menos oito não o leram inteiro. É uma travessia muito difícil, cheia de meias voltas e eternos retornos. É livro para acadêmico destrinchar.  Corra para os contos do mineiro João. “A Terceira Margem do Rio” e “Miguilim” são epifanias.

9

Doutor Fausto, de Thomas Mann

Exercício de virtuose literária e, até, musical. Corra, sem receio de parecer inculto, para “A Montanha Mágica”, que vale muito mais como literatura. Consta que só Arnold Schoenberg conseguiu ler e entender “Doutor Fausto”, uma cópia, transformada, de “Fausto”, de Goethe. Este, claro, é muito melhor.

10

Esperando Godot, de Samuel Beckett

De dez leitores que garantem ter lido a peça dez não entenderam e apanhariam do autor por interpretá-la erradamente. É o tipo de texto para jornalistas citarem em manchetes. Mas não para ser lido.

João Paulo de Oliveira Filho foi professor de Literatura em Goiânia, Brasília e Belo Horizonte.

O post 10 livros importantes (e chatos) que leitor dispensa com prazer e sem nenhuma vergonha apareceu primeiro em Jornal Opção.

Fonte: Jornal Opção

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *