Pobre pobre pobre! Cuide bem do seu milionário

Atualidades

A novela do tradicional horário das 21 horas na Tv Globo, uma refilmagem de Vale Tudo, o maior sucesso da emissora até hoje e que agora está sendo atualizada, está ganhando um contorno completamente oposto ao que teve em 1988 e 1989.

O ícone Odete Roitman, foi aclamado na época, mas havia também um ressentimento com as atitudes da vilã. A atriz Glória Pires, que em 1988 não podia sair nas ruas direito, porque era ameaçada, interpretou Maria de Fátima que hoje é papel de Bella Campos, que na versão atualizada tem ganhado mais atenção e admiração do público. A personagem que tipifica a questão imposta pela novela: “Vale Tudo para se dar bem na vida?”,  é a queridinha do público.

Isso prova o quanto o mundo mudou e o quanto a sociedade ficou mais impaciente pela melhora de viver melhor, de viver mais , de poder consumir mais, de não precisar consumir com alguém que está abaixo de você na cadeia social. Aproveitando para abusar da redundância, hoje a grande maioria da população do Brasil e do mundo trabalha para deixar mais ricos com mais dinheiro ainda.

Rolando a tela do meu celular, onde passo boa parte do meu dia, encontrei um podcast. Nem me atentei quem estava falando, mas o entrevistado estava explicando o quanto os dados econômicos mudaram a partir de 1971. 

O site, What The Fuck in 1971 (veja aqui) mostra em gráficos essas mudanças. Um dado interessante é que entre os anos 40, o final da Segunda Guerra Mundial e os anos 70, se você se tornar mais produtivo envolvia um aumento na sua capacidade.   

Por exemplo. Hoje um trabalhador produz uma garrafa de plástico por dia. Ele se torna mais eficiente e então produz duas garrafas plásticas por dia. Isso quer dizer que. A partir do momento em que duas garrafas são produzidas espera-se que haja o dobro da minha compensação anterior, porque a produtividade aumentou e eu estou produzindo mais riqueza. Porém, a partir de 1971 essa relação morre.

Relação compensação e produtividade para de existir no início dos anos 70 | Foto: Reprotução: wtfhappenedin1971.com/

O gráfico mostra o momento em que a força de trabalho se torna mais produtiva e não observa o aumento na compensação pela maior geração de riqueza, seja para empresa ou para um país. Em um outro gráfico que acompanha este primeiro é o que mostra a renda entre as classes financeiras. A partir de 1971 os ultra-ricos enriqueceram absurdamente.   

Reprodução: wtfhappenedin1971.com/

O gráfico mostra cinco linhas principais:
1- Real GDP per capita (PIB real per capita) — linha azul
2- Real GDP per FTE (PIB real por trabalhador em tempo integral) — linha verde
3- Avg real wage, GDP deflator (salário médio real ajustado pelo deflator do PIB) — linha marrom escura
4- Avg real wage, CPI (salário médio real ajustado pelo índice de preços ao consumidor) — linha laranja
5- Real median weekly earnings of full time workers, CPI (ganhos medianos reais semanais de trabalhadores em tempo integral, ajustados pelo CPI) — linha vermelha

O que se percebe é que desde 1971 vem ocorrendo o denominado efeito cantilhon, que é o eterno distanciamento entre os 1% mais ricos e os 99% menos ricos. A principal razão desse fenômeno que acelerou e persegue a maioria de governos e trabalhadores, principalmente em países em desenvolvimento, é que a força de trabalho se tornou uma moeda fiduciária. Hoje há uma grande impressora de dinheiro no quintal dos ultra-ricos.

É óbvio que sempre que o dinheiro é impresso, ele primeiro vai parar no bolso dos ultras ricos. A maneira como funcionam os títulos de dívida, o mecanismo da inflação, os mecanismos de flexibilização quantitativa, é uma grande engenhoca que ela aumenta a quantidade de unidades de dólares no bolso desses ultra ricos de forma desproporcional ao aumento da quantidade de dólares no bolso dos 99, muito embora o dinheiro tenha sido impresso para resgatar a economia inteira.

Os dados apresentados no site são referentes à economia dos Estados Unidos, mas é possível ver o que acontece na Europa, aqui no Brasil e também em economias mais globalizadas da Ásia e da África.

Diante deste cenários é importante propostas, como a redução da jornada de trabalho, estarem em discussão, para que haja mais justiça pelo trabalhador, que para além de produzir riqueza enquanto trabalha, também precisa estar vivo para produzir essa riqueza.

O argumento dos ultra-ricos, ou até dos que tentam fingir que são ricos é que isso vai matar a economia do país, igual já se argumentou na discussão aqui no Brasil. Não quebrou e não irá quebrar. Desde a abolição da escravidão os argumento do mais ricos é o mesmo.

Na política acontece o mesmo fenômeno. Os políticos eleitos pelo povo não têm a capacidade de respeitar o equilíbrio do país para garantir a segurança de subsistência dos 99% menos ricos. Com uma economia, a qual tem o Congresso Nacional como o maior saqueador do dinheiro público, não há mais presidencialismo que consiga governabilidade. Mesmo que a presidência seja exercida pelas mesmas figuras, ou até por figuras do próprio centrão de tragédias brasileiras, o jogo por mais dinheiro, por mais orçamento sem transparência continua e continuará.

Algo só muda quando o povo, pessoa por pessoa, faz a sua parte e pensa, para, analisa com tempo e cuidado quem ele está ajudando a colocar na Câmara dos Deputados e também no Senado Federal.

Mas essa conversa está muito pesada para você. Está? Se te cansei, deixa pra lá. Cuide bem do seu milionário e amanhã faça tranquilo as suas entregas de aplicativo ou suas viagens pelas congestionadas vias do país. Pois é isso que está ao seu alcance. 

Se vale tudo, eu não sei. Porém, certamente não compensa.

Leia também:

“Não adianta recuar em alguns casos e aumentar em outros”, avalia senador Vanderlan Cardoso sobre as mudanças no IOF

Motta diz que não tem “clima” para mais impostos e Câmara deve votar urgência para barrar aumento do IOF

O post Pobre pobre pobre! Cuide bem do seu milionário apareceu primeiro em Jornal Opção.

Fonte: Jornal Opção

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *