Mês do Orgulho LGBT+: conheça mulheres lésbicas que fizeram história no Brasil e no mundo

Atualidades

Embora muitas vezes invisibilizadas, as mulheres lésbicas sempre estiveram presentes na história. Elas marcaram a política, a literatura, as artes, os esportes e até a ciência. Ainda assim, enfrentaram o silêncio social, a censura e a marginalização, sobretudo em contextos onde ser mulher e amar outra mulher significava correr riscos sociais, profissionais e até legais.

Portanto, resgatar essas trajetórias é também um exercício de memória, justiça e reconhecimento.

Artes visuais e cênicas

No campo das artes visuais e performáticas, um nome que se destaca é o da fotógrafa surrealista francesa Claude Cahun. Nascida no fim do século XIX, ela desafiou os padrões de gênero com seus autorretratos andróginos. Viveu com sua parceira Marcel Moore e resistiu à ocupação nazista na França. Décadas depois, a sul-africana Zanele Muholi tornou-se referência internacional ao retratar a comunidade lésbica e negra em seu país. Suas imagens, expostas no MoMA e na Tate Modern, são mais do que arte: são ativismo visual.

No Brasil, o protagonismo feminino lésbico nas artes também tem força histórica. A artista modernista Laura Costa, ativa nas décadas de 1920 e 1930, contribuiu com figurinos e ilustrações para movimentos de vanguarda. Viveu com a também artista Zina Aita em um relacionamento que, embora pouco registrado nos livros didáticos, marcou uma geração. Mais recentemente, nomes como Renata Carvalho — atriz, diretora e dramaturga — vêm se destacando por desafiar normas cênicas e defender a presença de corpos dissidentes nos palcos. Renata, que se identifica como uma mulher trans e lésbica, fundou o Manifesto Transporático e tem se posicionado com firmeza contra o apagamento de artistas trans nas artes brasileiras.

Literatura

Na literatura, poucas figuras foram tão impactantes quanto a britânica Radclyffe Hall, autora do clássico O Poço da Solidão. Publicado em 1928, o livro retratou com delicadeza e ousadia o amor entre duas mulheres, sendo banido em diversos países por “imoralidade”. Ainda assim, tornou-se símbolo de resistência e visibilidade. No Brasil, a paulista Cassandra Rios teve dezenas de obras censuradas durante a ditadura militar. Foi a primeira autora a escrever abertamente sobre o erotismo lésbico, vendendo milhões de livros e mantendo uma base fiel de leitoras e leitores, apesar da repressão.

Outra autora brasileira de destaque é Angélica Freitas, que atualizou a linguagem poética e feminista no século XXI. Em seu livro Um útero é do tamanho de um punho, ela abordou, com ironia e acidez, temas como a maternidade compulsória, a sexualidade lésbica e o corpo feminino na sociedade de consumo. Suas obras já foram traduzidas e reconhecidas fora do país, abrindo espaço para uma nova geração de autoras lésbicas brasileiras.

Política

Na política, Jóhanna Sigurðardóttir, ex-primeira-ministra da Islândia, foi a primeira chefe de governo abertamente lésbica no mundo. Assumiu o cargo em 2009, em meio à crise econômica global, e conduziu uma das gestões mais progressistas do país, legalizando o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Nos Estados Unidos, Tammy Baldwin foi a primeira mulher lésbica eleita para o Congresso, onde atua desde os anos 1990 em defesa da saúde pública e dos direitos civis.

Já no Brasil, a trajetória política de mulheres lésbicas tem ganhado força recentemente. Monica Benício, viúva da vereadora Marielle Franco, elegeu-se vereadora no Rio de Janeiro e hoje atua na defesa de direitos humanos, sobretudo de mulheres negras e lésbicas em favelas. Outro nome importante é o de Carla Ayres, socióloga e atual deputada federal por Santa Catarina. Militante feminista, Carla foi eleita com base em pautas de inclusão e justiça social. Sua atuação em defesa da diversidade sexual e da ciência mostra como a presença lésbica também tem se consolidado no Legislativo.

Ciência e Tecnologia

Na ciência e na tecnologia, a engenheira americana Lynn Conway tem lugar de destaque. Ela revolucionou o design de chips nos anos 1970, sendo coautora do método de Integração em Larga Escala (VLSI). Entretanto, foi demitida da IBM após iniciar sua transição de gênero. Reconstruiu a carreira e tornou-se símbolo da inovação técnica e da luta por direitos de pessoas trans e lésbicas na tecnologia. Outro exemplo é o de Sally Ride, a primeira mulher americana a ir ao espaço. Apenas após sua morte, o público descobriu que ela havia vivido uma longa relação com sua companheira, a escritora e cientista Tam O’Shaughnessy. Portanto, sua história também é a história do silêncio e da omissão social que marcaram muitas vidas lésbicas.

No Brasil, a psicóloga e professora Jaqueline Gomes de Jesus é referência acadêmica em estudos sobre diversidade, racismo e políticas públicas. Mulher trans e lésbica, ela atua na Universidade Federal do Rio de Janeiro e é uma das poucas pesquisadoras negras com carreira consolidada em instituições públicas. Sua produção científica reflete o compromisso com a transformação social e com a democratização do saber. Outro nome é o da pesquisadora Fernanda Tavares Borges, cientista política que estuda o feminismo lésbico no Brasil contemporâneo. Seus trabalhos têm sido fundamentais para dar visibilidade à produção intelectual feita por e para mulheres lésbicas.

Esporte

No esporte, a visibilidade lésbica rompeu barreiras. A jogadora Megan Rapinoe, campeã mundial pela seleção americana de futebol, foi uma das primeiras atletas a se posicionar politicamente contra Trump e em defesa de atletas trans. Assumidamente lésbica, é casada com a também atleta Sue Bird. No Brasil, Marta Vieira da Silva se tornou a maior artilheira da história das Copas e exemplo de orgulho LGBTQIA+. Em 2020, assumiu seu relacionamento com a jogadora Toni Deion Pressley e, desde então, tem falado abertamente sobre inclusão no esporte.

Outra brasileira de destaque é Ana Marcela Cunha, campeã olímpica da maratona aquática em Tóquio. Assumidamente lésbica, ela afirmou que esperava inspirar jovens que sofrem preconceito por sua orientação sexual. Portanto, suas conquistas vão além das medalhas: são também conquistas simbólicas para uma geração que cresce buscando espelhos positivos.

Música

Por fim, na música, nomes como Cássia Eller seguem reverberando. A cantora brasileira, falecida em 2001, viveu abertamente com sua companheira Maria Eugênia e desafiou os estereótipos de gênero e sexualidade em pleno horário nobre da TV brasileira. Já a americana Melissa Etheridge construiu uma carreira sólida no rock e foi uma das primeiras artistas a se assumir lésbica no auge da fama, nos anos 1990. Ambas ajudaram a abrir caminho para artistas como Hayley Kiyoko e Brandi Carlile.

Enquanto muitas dessas mulheres enfrentaram preconceitos, censura ou apagamento, seus nomes permanecem como referência para outras tantas que continuam lutando. Ainda há muito a ser conquistado, mas a visibilidade lésbica cresce com mais consistência e dignidade a cada década. Valorizar essas histórias é também afirmar que o amor entre mulheres sempre existiu — e sempre resistiu.

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Fonte: Jornal Opção

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