Para prevenir incêndios florestais, a Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) tem feito aceiros queimados nas Unidades de Conservação de Goiás. A técnica faz parte do Plano Estadual de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais e é autorizada legalmente como modalidade de manejo integrado do fogo — conceito que une conhecimentos tradicionais, ciência e gestão adaptativa.
O gerente de gestão e prevenção de incêndios e acidentes ambientais da Semad, Sayro Reis, explica que os aceiros queimados são faixas de terra sem vegetação que reduzem o material combustível (como folhas secas, galhos e capim) em faixas estratégicas do território, criando barreiras de proteção. Assim, caso ocorra uma ignição, ou seja, o início de um fogo acidental ou criminoso, essas áreas com menos combustível impedem que o fogo se espalhe e atinja grandes proporções.
“Temos equipamentos, efetivo especializado para realizar um trabalho seguro, viaturas do Corpo de Bombeiros com um kit picape, que consegue transportar 600 litros de água em toda a extensão do nosso aceiro, utilizamos um equipamento para colocar o fogo de maneira segura, que é pinga-fogo e todo o material e EPI necessário”, destaca.
A execução da atividade é acompanhada por servidores da Semad e realizada em parceria com o Corpo de Bombeiros e a Brigada Aliança da Terra. No Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco, por exemplo, a ação teve início no começo do mês, e finalizada.
O Parque Altamiro de Moura Pacheco, com mais de 2 mil hectares, abriga uma rica diversidade de fauna e flora e cumpre papel importante como área de recarga do aquífero Meia Ponte, responsável pelo abastecimento de água da Região Metropolitana de Goiânia.
O subsecretário de licenciamento, fiscalização e controle ambiental da Semad, Robson Disarz, reforça que a população deve estar atenta à presença de fumaça, mas também consciente de que ações como os aceiros queimados são planejadas, seguras e fundamentais para evitar tragédias ambientais maiores.
Fogo como estratégia

De acordo com o relatório Ações de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais – 2024, da Semad, a área total queimada no estado no ano passado foi de quase 449 mil hectares, sendo quase 29 mil hectares em Unidades de Conservação — entre elas, o Parque Altamiro de Moura Pacheco, que teve 15,6 hectares atingidos.
Os dados mostram também que apenas 1,42% das áreas queimadas estavam em locais com licenciamento ambiental vigente, evidenciando que a maioria das queimadas é feita de forma irregular ou criminosa.
A Semad aponta ainda que, em anos anteriores, a adoção dos aceiros queimados no Parque Altamiro ajudou a evitar incêndios de grandes proporções.
“Essa técnica nos permite antecipar um problema. Em vez de combater o fogo quando ele já está se alastrando, criamos barreiras que evitam que ele se propague. É uma mudança de postura diante de um cenário de crise climática”, reforça Disarz.
Contexto climático e legislação
A iniciativa ocorre em um momento de alerta máximo. Em 2024, Goiás enfrentou um dos períodos mais secos da última década, com mais de 150 dias consecutivos sem chuva em regiões como Goiânia, e índices de umidade do ar chegando a 7% — o mais baixo do país naquele ano. A combinação entre calor extremo, seca prolongada e vegetação ressecada forma o ambiente ideal para incêndios florestais severos.
Em resposta, o Estado adotou medidas estruturais. Além do plano anual de prevenção, foram editados decretos que reconhecem situação de emergência ambiental, autorizando contratações e aquisições emergenciais. Em setembro, foi sancionada a Política Estadual de Prevenção e Combate ao Incêndio Criminoso (Lei nº 22.978/2024), que prevê responsabilização de infratores e fortalecimento da ação interinstitucional.
No plano federal, a Lei nº 14.944/2024, que instituiu a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, consolida a estratégia como um instrumento de conservação ambiental e proteção de comunidades vulneráveis.