Acidente de trânsito: veja relatos de motociclistas sobreviventes

Atualidades

A frota de motocicletas emplacadas em Goiânia chegou a 222.867 até o dia 10 de junho de 2025, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran-GO). No entanto, o número real pode ser ainda maior. Isso porque muitos veículos circulam de forma irregular ou com placas de outras cidades, o que pode elevar a quantidade de motos em circulação na capital para mais de 300 mil.

O impacto desse aumento é perceptível principalmente nos horários de pico, quando avenidas como a Perimetral Norte, Leste-Oeste e a BR-153 ficam tomadas por motociclistas. Essas vias, inclusive, estão entre as que registram maior número de acidentes fatais envolvendo motos. A concentração de veículos se torna mais evidente em momentos como o fechamento dos semáforos.

Outro fator observado nas ruas é o crescimento da presença feminina no comando das motocicletas, o que reflete mudanças no perfil dos condutores.

Vítima fatal l Foto: DICT

A expansão do serviço de entregas e o uso de motos para transporte de passageiros também têm impulsionado o aumento da frota e, consequentemente, o número de acidentes. Esse cenário em Goiânia acompanha a tendência nacional: 78% das internações hospitalares por acidentes de trânsito envolvem homens, muitos deles na faixa etária economicamente ativa. Em 2024, os motociclistas representaram mais de 60% das internações por sinistros de trânsito, o que reforça a vulnerabilidade desse grupo nas vias urbanas.

Lesões decorrentes de acidentes de trânsito representam um grave problema de saúde pública em todo o mundo, figurando entre as dez principais causas de morte em países de baixa e média renda. Além disso, ocupam a sexta posição entre as causas de DALY — sigla em inglês para “Disability Adjusted Life Years”, que significa anos de vida perdidos ajustados por incapacidade. Segundo um boletim divulgado, no Brasil, em 2020, esses acidentes foram responsáveis por mais de 190 mil internações em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS) e unidades conveniadas, das quais mais de 61% envolveram motociclistas.

Números do Hugol

De acordo com o Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), nos primeiros quatro meses de 2025 foram registrados 1.731 acidentes envolvendo atropelamentos, colisões automobilísticas e motocicletas. Desse total, 1.267 envolveram motociclistas — um número alarmante.

Em relação ao ano de 2024, de janeiro a dezembro, a unidade de saúde contabilizou 6.254 atendimentos relacionados a acidentes de trânsito, dos quais 4.203 foram com motos. A média foi de aproximadamente 350 acidentes envolvendo motociclistas por mês, o que representa 67,62% do total. Os números são estarrecedores e preocupantes.

Acidentes envolvendo motos é a maioria na capital : Foto: Divulgação

Números do HUGO

Os dados do Hospital de Urgências de Goiânia (HUGO) são ainda mais preocupantes do que os apresentados pelo Hugol. Entre junho e dezembro de 2024, foram registrados 1.838 acidentes, sendo 1.318 com motocicletas — o equivalente a 71,72% dos casos.

De janeiro a maio de 2025, o hospital atendeu 1.208 vítimas de acidentes de trânsito, das quais 884 eram motociclistas, o que corresponde a 73,14%. De fato, são números apavorantes.

O hospital também informa que a faixa etária que mais dá entrada na emergência está entre 20 e 39 anos de idade.

DICT

Segundo a Delegacia de Crimes de Trânsito de Goiânia (DICT), somente em 2025 já foram registradas 80 mortes por acidentes de trânsito na capital. Desse total, 53 vítimas eram motociclistas, ou seja, 66,3%. Considerando os dados entre janeiro e 13 de junho de 2025, a média é de aproximadamente 9,8 mortes por mês — um índice alarmante.

Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER)

A unidade informa que existe no momento em processo de reabilitação ambulatorial 86 pacientes por vítima de acidente de trânsito. Destes 53 são vítimas de acidente de moto. Como sequela temos 4 amputados (8%), 19 lesão medular (35%), 14 lesões ortopédicas (27%), 15 traumatismos crânio encefálico (28%), 1 outro (2%). 13 sexo feminino e 40 masculinos.

SMS

Os acidentes de trânsito resultaram em 205 mortes em Goiânia em 2024. Os números são do Painel Vida no Trânsito (PVT), disponibilizado pela Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Os dados consideram apenas acidentes ocorridos no perímetro urbano da capital.

O PVT mostra ainda que, das 205 mortes registradas nas vias da capital, 174 vítimas eram homens (84,9%) e 31, mulheres (15,1%). A maioria dos óbitos foi de motociclistas, com 128 vítimas fatais. As vias com maior número de acidentes fatais são a BR-153, a Avenida Perimetral Norte e a GO-070.

Somando-se os sinistros fatais com motos ocorridos em Goiânia e na região metropolitana, envolvendo motociclistas residentes em outros municípios, foram registradas 134 mortes em 2024. Desse total, 68 eram solteiros e 36, casados. A maior parte das vítimas (71) tinha entre 20 e 39 anos. Do total, 13,4% eram mulheres e 86,6%, homens. Sexta-feira, sábado e domingo concentram o maior número de ocorrências. Entre os residentes na capital, foram 99 óbitos.

Já em 2025, de janeiro a maio, foram registradas 47 mortes envolvendo motociclistas, sendo 14,9% mulheres e 85,1% homens. Desses, 26 eram solteiros e 11, casados. Ao todo, 23 vítimas tinham entre 20 e 39 anos, e 14, entre 40 e 59 anos. Entre os residentes de Goiânia, foram 33 óbitos.

Durante visitas in loco ao Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) e ao Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), foi constatado que a maioria das vítimas é composta por trabalhadores informais, com destaque para os entregadores. Fraturas no fêmur, muitas vezes expostas, estão entre as lesões mais comuns.

SES

A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás esclarece que foram registrados em todo o estado (unidades SUS municipais e estaduais) um total de 3.890 internações por acidentes com motociclistas no ano de 2023; 5.325 em 2024; e 2.020 em 2025 (até esta sexta-feira, 13/06). Os dados são do Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), do Ministério da Saúde e estão sujeitos à alteração.

Em relação aos óbitos de motociclistas, foram 628 em 2023; 617 em 2024; e 163 em 2025. Os números são do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do MS e estão sujeitos à alteração.

As motos estão por todo lado l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Acidentes com motos geram impacto de R$ 221,5 milhões em 2023

Só em 2024, o SUS registrou mais de 227 mil internações por acidentes terrestres, o que significa uma vítima recebendo atendimento de emergência a cada dois minutos no país. Nos últimos dez anos, houve um crescimento de 44% nas internações por sinistros de trânsito. Expansão da frota de motocicletas e ao trânsito cada vez mais intenso são justificativas. Em Goiânia, onde a motocicleta se tornou ferramenta de trabalho para muitos, realidade semelhante à várias cidades.

Além das mortes causadas por acidentes de trânsito, os custos com internações hospitalares geram forte impacto nos cofres públicos. Somente em 2023, o Sistema Único de Saúde (SUS) desembolsou R$ 221,5 milhões com o tratamento de vítimas de acidentes de moto, segundo dados do Ministério da Saúde. A média por internação foi de R$ 1.561,31.

O cenário se mantém preocupante em 2024. Apenas entre janeiro e abril, os gastos somaram R$ 80,5 milhões. Os números referem-se exclusivamente ao tratamento das vítimas, sem contabilizar despesas indiretas.

O tempo de recuperação de quem se acidenta de moto costuma ser longo, podendo durar meses ou até anos, com necessidade de cirurgias, internações prolongadas e sessões contínuas de fisioterapia. Esse processo afeta diretamente a vida dos pacientes, sobrecarrega o sistema de saúde e gera impactos socioeconômicos que atingem também famílias e empregadores.

O jornal Opção conversou com pacientes tanto do Hugo, quanto do Hugol e do Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER), como também com médicos dessas unidades e especialistas em trânsito, para saber qual o motivo de tantos sinistros envolvendo motociclistas.

Veja relatos de motociclistas internados e fazendo reabilitação

O entregador João Pedro Fernandes de Moraes, de 19 anos, morador do Setor Vila Nova, em Goiânia, está internado no Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) desde o dia 29 de maio, após se envolver em um grave acidente de trânsito enquanto trabalhava.

João Pedro: “Não quero saber mais de moto” l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opçao

“Eu estava trabalhando no momento do acidente”, contou João Pedro. “Peguei uma entrega de uma empresa que presto serviço já tem um tempo. Eu estava no Setor Nova Esperança indo em direção ao Setor Santos Dumont. Quando fui atravessar a Avenida Anhanguera, o sinal ficou amarelo. Eu já estava em cima da avenida e, nesse momento, um carro veio na contramão e me atingiu.”

De acordo com o entregador, o motorista fez uma manobra irregular, conhecida como “gato”, invadindo a faixa contrária e o atingindo de surpresa. “Foi muito rápido, nem consegui ver. Ele não podia fazer aquela conversão, mas acelerou e me pegou desprevenido”, relata.

João Pedro sofreu uma fratura exposta no fêmur e passou por cirurgia no dia seguinte ao acidente. “Já fiz uma cirurgia e estou esperando a próxima. A fratura foi em um ponto só, mas como foi exposta, tive que operar duas vezes.”

O jovem, que trabalha como entregador de aplicativos e farmácias, afirma que o responsável pelo acidente permaneceu no local, mas não prestou ajuda. “Ele encostou o carro, mas não desceu. Outras pessoas chamaram a ambulância. Ele esperou o socorro chegar, passou a placa e o telefone, mas nunca veio aqui saber como eu estou e não está arcando com nada”, disse.

Além dos danos físicos, João Pedro relata prejuízo material. “A moto estragou toda. Furou o motor, quebrou a carenagem, acabou com tudo. E ele não se responsabilizou por nada até agora.”

Sem carteira assinada e vínculo formal com a empresa para a qual prestava serviços, o jovem não tem direito a benefícios trabalhistas. “Ainda não recebi ajuda da empresa porque eu era autônomo, não tinha carteira assinada. Eles praticamente nem sabem do acidente”, lamenta.

João Pedro também destaca o impacto da situação em sua vida pessoal. “Sou noivo e quem sustentava a casa era eu. Minha noiva estuda, e agora estamos perdidos. Moramos de aluguel e estávamos planejando comprar uma casa, mas agora vamos ter que adiar esse sonho.”

Veja vídeo do acidente

Sobre o atendimento no Hugol, ele faz elogios: “Aqui o atendimento é ótimo. Mesmo com muita gente chegando o tempo todo, comigo foi tudo bem rápido.”

O entregador faz um alerta sobre os riscos enfrentados por motociclistas nas ruas. “Mesmo sem estar errado, o motoqueiro sempre leva a pior. O carro dele estragou, mas eu que fiquei com a vida parada. As pessoas precisam se conscientizar: moto é muito perigoso. Quando eu sair daqui minha intenção é vender minha moto. estou traumatizado. Quero andar só de carro agora.”

Entregador sofre acidente de moto

O entregador Kelvin França de Souza, de 20 anos, ficou gravemente ferido após um acidente de moto ocorrido na sexta-feira, 6 de junho, na Avenida Castelo Branco, em Goiânia. Morador do bairro São Carlos, na região Noroeste da capital, ele pilotava sua motocicleta a trabalho quando foi atingido por uma caminhonete. Kelvin foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado ao Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), onde permanece internado com fratura no fêmur.

“Eu estava trabalhando, eu sou entregador, faço entrega. Aí eu estava subindo na Avenida Castelo Branco, que um ônibus passou, né, na frente. Aí o cara da caminhonete passou um pouco do local, não deu a seta para virar pra direita. Quando ele virou, só virou, eu fui lá e acertei ele cheio”, relatou Kelvin. “Depois disso não vi mais nada. Só lembro da hora que eu voltei tentando respirar, que eu estava sem ar, meu peito doendo. No momento do acidente eu apaguei.”

Apesar da gravidade do acidente, o jovem contou que o atendimento de emergência foi ágil. “Foi um bombeiro que me atendeu. Me trouxeram direto para o Hugol. O atendimento aqui foi rápido. A cirurgia foi feita logo. Agora é só esperar, né?”, disse. Kelvin deverá ficar, no mínimo, três meses afastado do trabalho para se recuperar.

Mesmo após o susto, o entregador afirma que não pretende abandonar a motocicleta. “Eu gosto de moto desde pequeno. É meio difícil parar. Gosto de trabalhar como entregador também. Só que é perigoso”, confessou.

Kelvin França: “vou andar mais devagar” l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Ao falar sobre a rotina dos entregadores nas ruas da cidade, Kelvin reconhece que a pressão para cumprir prazos pode levar a atitudes arriscadas no trânsito. “Às vezes a gente corre mesmo para chegar rápido na entrega. Acho que é normal todo mundo dar uma aceleradinha”, disse. “Mas agora, tipo assim, vou andar mais devagar, observar mais. A gente tem que dirigir pela gente e pelos outros, né? O trânsito é isso.”

Kelvin também chamou atenção para a falta de apoio das empresas para as quais os entregadores prestam serviço. Ele trabalhava como prestador autônomo para uma empresa de vendas de tênis e afirmou não ter recebido qualquer assistência após o acidente. “A empresa não me ofereceu nada. Não tem vínculo empregatício, né?”, lamentou.

Jovem fratura o fêmur em acidente de moto ao buscar a esposa

Bruno Gabriel Souza Neves, de 17 anos, casado, operador de colheitadeira e morador de Jussara, em Goiás, está internado há 10 dias após sofrer um acidente de moto. Ele conta que tudo aconteceu quando estava a caminho do trabalho da esposa.

“Eu saí da casa da minha tia, tava indo buscar minha esposa no serviço”, relata. “Aí, faltando uma quadra para chegar no serviço da minha esposa, tinha um motoqueiro que parou no pare e olhou só para um lado, pro lado que vinha um carro, e não olhou pro lado que eu vinha. Aí ele arrancou pra passar antes do carro, e eu vim, bati na frente da moto dele e bati de frente com o carro.”

Bruno Gabriel: “Gosto muito de andar de moto” l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Segundo Bruno, ele pilotava a moto em uma velocidade média no momento do acidente. “Quase uns 50, 60 por hora”, afirmou.

A colisão resultou em uma fratura no fêmur. “Quebrou o fêmur”, disse o jovem, que continua internado se recuperando da cirurgia. “O atendimento aqui no hospital foi muito bom. Os médicos atenderam bem. Tudo são os médicos, tudo atendeu de boa. São tudo legal. A cirurgia foi rápida.”

Apesar do susto e das lesões, Bruno garante que pretende continuar andando de moto. “Gosto muito de andar de moto”, declarou.

Merendeira de Goianésia relata acidente de moto

A merendeira Leila Batista, de 50 anos, moradora de Goianésia (GO), se recupera no hospital após sofrer um grave acidente de moto. Ela voltava de um salão de beleza quando foi atingida por um carro em alta velocidade. O impacto a lançou por cerca de 15 metros e causou fraturas na perna esquerda e no ombro, exigindo cirurgia.

“Foi um acidente na minha cidade, aonde eu estava retornando de um salão de beleza. Quando me aproximei da esquina, veio um carro correndo em alta velocidade. Eu vi que ele ia bater em mim, tentei jogar a moto para o lado, em um lote vazio, mas não deu tempo”, relatou.

Leila disse que tentou evitar a colisão ao perceber que o motorista não reduziria a velocidade no cruzamento. “Até me passou pela cabeça: ‘ele vai parar, né?’. Porque é aquela coisa, o pare é seu, então você para. É o que eu faço. E mesmo se não for, dá uma freadinha, não custa nada, né? Mas ele não fez isso. Jogou o carro em cima de mim e eu voei 15 metros. Caí quase dentro do lote, por pouco não bati num poste.”

Leila Batista: “foi um milagre” l foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Ela atribui sua sobrevivência a um milagre. “Existe um Deus do milagre. Se ele tivesse me pegado do jeito que vinha, acho que eu não estaria aqui para contar a história. Todo mundo ali falou: ‘Moça, você viveu de novo’. Eu creio que Deus me deu uma segunda chance.”

Leila também destacou o atendimento rápido que recebeu. “Graças a Deus, o atendimento foi muito bom. Chamaram o bombeiro, que eu até conhecia. Me ampararam, fui para a UPA de Goianésia, depois para o hospital municipal, e de lá viemos para cá. Cheguei no mesmo dia, no sábado, 7 de junho.”

No hospital onde segue internada, a merendeira elogia o serviço prestado. “Está sendo bom até hoje. Um hospital muito bom, com uma equipe muito competente, maravilhosa. Não tenho nada a reclamar.”

As fraturas, segundo ela, foram graves. “Minha fratura foi na perna esquerda, quebrei ela, e o ombro do mesmo lado. Já fiz a primeira cirurgia e a do ombro será no dia 8 de julho.”

Apesar do susto, Leila demonstra bom humor e consciência. “Com 50 anos, nunca pensei que ia entrar no hospital por acidente. A gente sabe que acidente acontece, mas quando é por negligência do outro lado, aí é difícil.”

Ela afirma que, por decisão da família, não voltará a pilotar moto. “Fiquei com nada [de trauma], mas só não vou continuar a andar de moto porque minha família, meu marido, não quer deixar mais.”

Motociclista ferido após colisão com motorista embriagado

Thiago Lucas Neves Souza, de 28 anos, está há cerca de um mês afastado do trabalho após sofrer um grave acidente de moto enquanto autuava como motorista de aplicativo em Goiânia. Ele transportava um passageiro quando foi surpreendido por um motorista embriagado.

“Um motorista bêbado entrou na minha frente. Eu estava a 40 por hora”, contou Thiago.

Com o impacto da colisão, Thiago sofreu uma fratura no fêmur. O passageiro que estava na garupa teve ferimentos mais leves nas costas e permaneceu internado por dez dias. Thiago precisou de mais tempo para se recuperar. “Fiquei 20 e poucos dias internado aqui no Hugol”, relatou.

Thiago Lucas: “”Já tem um mês que estou parado” l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Desde o acidente, ele está sem poder trabalhar. “Já tem um mês que estou parado, e a previsão é de mais dois meses. Ou seja, uns três meses sem trabalhar”, lamentou.

Recuperando-se das lesões, Thiago aproveita para deixar um alerta. “Tem que ter mais consciência, né? Dirigir com mais responsabilidade, pilotar com mais responsabilidade. E cada um cuidar do outro no trânsito”, afirmou.

Motociclista cai após mal súbito

Divino Ataídes da Silva, de 40 anos, morador de Senador Canedo, está internado no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), onde aguarda uma cirurgia na coluna cervical. Ele sofreu um acidente de moto em um domingo, enquanto retornava de uma breve saída de casa.

“Fui comprar um cigarro lá em cima, de rotina mesmo. Fui embora para casa, passei mal em cima da moto, caí. Uma pessoa viu, falou que eu tava caindo, já tinha desmaiado em cima dela. E aconteceu isso aí: caí sozinho, não bati em nada”, relatou.

Apesar da gravidade do susto, Divino não teve fraturas pelo corpo. “Nenhuma fratura, nada, nada, nada. Só o rosto que eu machuquei, cortei, e uma lesão na coluna cervical.”

Proprietário de uma motocicleta Titan Fan 150, ele explica que, embora o acidente tenha ocorrido fora do horário de trabalho, o veículo é seu instrumento de sustento. Divino também comentou sobre os desafios enfrentados por quem pilota motocicleta nas ruas. “O trânsito tá muito cheio, né? É bem complicado para o motoqueiro.”

Divino Ataídes: lesão na coluna cervical l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

Sobre o comportamento no trânsito, ele pondera que há imprudência de ambos os lados. “Geralmente tem uns motoqueiros que respeitam, cara. E não vou falar que não é só motoqueiro, tem muito motorista de carro que não respeita também. Tem motoqueiro que quer ultrapassar, quer já chegar lá na frente do sinaleiro… Mas tem muito motorista de carro que não respeita também, não.”

Mesmo com a espera inicial por atendimento, Divino elogia a equipe do Hugo. “Fiquei um pouquinho no corredor, mas como a demanda aqui é muito de acidentes, depois já me colocaram numa enfermaria, correram comigo, já fizeram os exames, ressonância e, graças a Deus, já marcaram a cirurgia. Então, não tenho nada a reclamar.”

Após sete anos, sobrevivente de acidente de moto segue em reabilitação e relata avanços

Luiz Fernando, de 29 anos, morador de Aparecida de Goiânia, ainda sente diariamente os impactos do acidente de moto que sofreu em 2018. Desde então, está afastado do trabalho e realiza tratamento contínuo de reabilitação no Crer há seis anos.

Solteiro e pai de uma menina de 8 anos, Luiz trabalhava como auxiliar de pátio em uma madeireira quando a moto em que estava se envolveu em um acidente grave. “Tive traumatismo cranioencefálico, diversas fraturas, trauma torácico com contusão pulmonar, lesão do plexo braquial esquerdo”, lembra. “Fiquei 28 dias na UTI do Hugol em coma, passei por procedimento de laminoplastia na coluna cervical, traqueostomia e sonda para alimentação”, detalha.

Luiz Fernando: “Hoje já troco uns passos” l Foto: Crer

Com o diagnóstico de tetraparesia espástica — uma condição que afeta os quatro membros, com rigidez muscular e dificuldade de mobilidade. Desde então, Luiz vem passando por diversas terapias no Crer. “Já fiz gameterapia, terapia ocupacional, psicologia, cozinha terapêutica e fisioterapia. Hoje faço hidroterapia e academia”, conta.

A condição física impediu que Luiz voltasse ao mercado de trabalho e trouxe consequências financeiras. “A renda que eu obtinha antes, o INSS não consegue suprir. São muitos medicamentos, equipamentos e cuidados com a saúde no geral. Isso acarretou um grande déficit financeiro”, afirma. Até mesmo a pensão da filha sofreu impacto, segundo ele, já que foi necessário reduzir os valores.

Apesar das dificuldades, Luiz reconhece os avanços conquistados com o apoio da equipe do Crer. “Os profissionais são excelentes e, por isso, estou a cada dia melhorando. Quando cheguei aqui, eu não tinha quase nenhum movimento. Hoje já troco uns passos, consigo me alimentar sozinho, escovar os dentes e escrever”, relata, com fala ainda dificultada pelas sequelas, mas com visível gratidão.

Hugol registra alta de traumas graves em motociclistas e alerta para impacto no sistema de saúde

O ortopedista e traumatologista Eduardo Teixeira Campos, gerente médico do centro cirúrgico do Hugol, destaca a alta incidência e gravidade dos acidentes de trânsito envolvendo motociclistas. Segundo ele, aproximadamente 60% dos pacientes vítimas desse tipo de acidente atendidos no hospital são motociclistas, majoritariamente homens jovens, embora o número de mulheres e idosos envolvidos esteja crescendo. “O corpo do paciente acaba absorvendo toda a energia do trauma. Por isso, são comuns fraturas graves, especialmente em membros inferiores, como fêmur, tíbia e pé”, afirma Eduardo.

Hugol: Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

De acordo com o especialista, os motociclistas acidentados geralmente têm entre 18 e 60 anos e sofrem múltiplas fraturas e lesões musculares severas, o que demanda longas internações. “Esses pacientes muitas vezes precisam de várias cirurgias, como debridamentos, enxertos e reconstruções, e ocupam os leitos por semanas ou até meses. Isso gera um custo elevado e reduz a capacidade de atendimento”, explica. O Hugol conta com 512 leitos, sendo muitos voltados ao atendimento ortopédico, sempre com lotação máxima.

Eduardo também chama atenção para o crescimento do uso da motocicleta como alternativa ao transporte público, motivado pela praticidade e economia. “Temos visto um aumento considerável no uso da moto por mulheres e idosos. Muitas pessoas deixam o carro em casa para economizar ou preferem a moto ao transporte coletivo, que nem sempre atende bem”, aponta. Ele alerta ainda para o consumo de álcool como fator agravante, especialmente nos fins de semana: “Álcool e carro já é perigoso, álcool e moto é ainda pior”.

Mesmo com a superlotação frequente, o Hugol continua atendendo todas as vítimas de acidentes de trânsito. “Todos os dias os leitos de ortopedia estão cheios. A gente só consegue admitir novos pacientes se houver altas. Quando necessário, acionamos a regulação estadual para transferências entre hospitais”, afirma Eduardo, reconhecendo que a demanda é alta demais para ser absorvida por um único hospital.

 Para ele, a solução passa pela prevenção: “É preciso atenção no trânsito. A prevenção passa por educação e respeito às leis de trânsito, tanto por motociclistas quanto por motoristas e pedestres. Todos têm responsabilidade”.

Eduardo Teixeira Campos: “as vítimas são majoritariamente homens jovens’ l foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Com o objetivo de conscientizar a população, o Hugol realiza durante o mês de junho a campanha PARE – Prevenção de Acidentes e Reeducação no Trânsito. De janeiro a abril de 2025, o hospital atendeu 1.731 vítimas de acidentes de trânsito, o que representa cerca de 10% do total de atendimentos. A ação conta com apoio do Detran, Corpo de Bombeiros e BPMTran, e prevê a distribuição de material educativo. Segundo o diretor técnico do Hugol, Dr. Fabrício Cardoso Leão, a campanha contempla tanto o público interno quanto externo: “As vítimas de acidentes de trânsito estão entre os principais casos tratados na unidade, tornando-se um tema importante para conscientização da sociedade”.

Acidentes de moto sobrecarregam sistema de saúde e atingem principalmente jovens trabalhadores, alerta coordenador do HUGO

O coordenador do Departamento de Emergência do Hospital de Urgências de Goiás (HUGO), Gustavo Moreira, chama atenção para o perfil das vítimas de acidentes de trânsito atendidas na unidade: “O que mais vemos no departamento de emergência são homens jovens, principalmente entre 20 e 39 anos, muitos deles trabalhadores informais — entregadores formam uma parcela importante desse grupo”.

Gustavo Moreira: “mais de mil atendimentos mensais são de vítimas de trauma” l Foto: Luciano Ohya

De acordo com ele, esse cenário acompanha os dados nacionais, que mostram que 78% das internações por acidentes de trânsito envolvem homens, sendo quase metade entre 20 e 39 anos. Em 2024, motociclistas representaram mais de 60% das internações por sinistros de trânsito no Brasil.

“Conseguimos perceber esse aumento e esse cenário não é isolado: só em 2024, o SUS registrou mais de 227 mil internações por acidentes terrestres, o que significa uma vítima recebendo atendimento de emergência a cada dois minutos no país”, afirma. Segundo ele, o crescimento de 44% nas internações na última década está ligado à expansão da frota de motocicletas e ao trânsito cada vez mais intenso, principalmente em cidades como Goiânia, onde a moto virou ferramenta de trabalho.

As lesões mais comuns entre os pacientes são graves: “Lidamos com traumatismo cranioencefálico, lesões de coluna, tórax, abdome e pelve, além de múltiplas fraturas, muitas vezes expostas”. Em 2024, foram mais de 150 mil internações de motociclistas no país, superando pedestres e ciclistas juntos.

No HUGO, mais de mil atendimentos mensais são de vítimas de trauma, sendo a maioria por acidentes de trânsito. “Cada paciente grave que atendemos representa um esforço coletivo da equipe e do hospital para garantir o melhor desfecho possível”, destaca Gustavo.

Além da sobrecarga na rede hospitalar, o custo para o sistema público é alto: o SUS gastou R$ 3,8 bilhões com internações por acidentes de trânsito nos últimos dez anos.

Hugo l Foto: Divulgação/HUGO

“Boa parte desses acidentes poderia ser evitada. A prevenção é o melhor caminho”, defende o médico, que destaca ações de conscientização internas e o apoio a campanhas como o Maio Amarelo. Para ele, não há solução única: “Precisamos de campanhas educativas mais fortes, fiscalização efetiva, melhorias na infraestrutura viária e valorização do uso de equipamentos de proteção. O trânsito é um desafio coletivo”.

Delegado aponta imprudência como principal causa de mortes de motociclistas em Goiânia

O delegado titular da Delegacia de Crimes de Trânsito (DICT), Paulo Ludovico Evangelista da Rocha, atribui à imprudência dos condutores a maior parte dos acidentes fatais envolvendo motociclistas em Goiânia. Segundo ele, o comportamento apressado e desrespeitoso no trânsito tem sido determinante para o alto número de mortes.

“Com certeza, a imprudência é o principal causador desses acidentes envolvendo motociclistas. Eles não respeitam as faixas, não respeitam o limite de velocidade e, na maioria das vezes, ignoram os sinais de parada. Por quê? Porque estão com pressa de fazer as entregas. É o que a gente percebe no cotidiano”, afirmou o delegado.

Paulo Ludovico: “os acidentes acontecem mais aos finais de semana” l Foto: Acervo pessoal

Apesar de ainda não ter dados consolidados, Paulo Ludovico destaca que os números parciais de 2025 já são preocupantes. “Até o momento, foram registradas 53 mortes de motociclistas. Esse número já traz um alerta para a população quanto à forma de conduzir motocicletas”, disse.

O delegado explica que não há um padrão fixo quanto ao horário dos acidentes, mas que os fins de semana e o período noturno concentram mais ocorrências. “Geralmente, os acidentes acontecem mais aos finais de semana ou nas proximidades deles. No período noturno também há muitos casos, e, geralmente, as vítimas estão sob influência de álcool”, observou.

Outro ponto destacado por Ludovico é a frequência com que motociclistas colidem com objetos fixos. “Estranhamente, há muitos casos — e isso já vem de anos anteriores — de motociclistas que se chocam com postes, veículos parados, contêineres, principalmente em rodovias, onde o excesso de velocidade também contribui para esse tipo de sinistro”, explicou.

Para tentar reduzir esses índices, a delegacia tem desenvolvido projetos de conscientização. “Na minha gestão, criei quatro projetos. Dois já estão em andamento. Um deles é o ‘Condutor Consciente’, que consiste em divulgar dicas de segurança no trânsito semanalmente. A própria Polícia Civil já começou a lançar alguns cards com orientações. No primeiro dia, abordamos os pedestres, e o próximo foco será nos motociclistas, que representam um dos maiores índices de mortes no trânsito”, concluiu o delegado.

Ronaldo Caiado socorre vitima de acidente com motos l Foto: Reprodução

Especialista alerta para crescimento de acidentes com motociclistas e cobra ações integradas

O aumento dos acidentes envolvendo motociclistas em Goiânia revela um problema estrutural que exige respostas urgentes, segundo o especialista em gestão e planejamento de trânsito Jean Damas da Costa, integrante do Fórum de Mobilidade Mova-se. “Os números são alarmantes e refletem uma combinação perigosa entre o aumento do uso da motocicleta, a vulnerabilidade dos condutores e as deficiências na infraestrutura urbana”, afirma.

Jean Damas: “Os números são alarmantes” l Foto: Acervo pessoal

Para ele, embora a motocicleta tenha se tornado uma solução acessível para deslocamentos, a popularização do modal não foi acompanhada por políticas eficazes de segurança viária. “O dado de que quase 75% dos atendimentos no HUGO envolvem motociclistas é sintomático”, alerta.

Damas aponta como principais causas dos sinistros o excesso de velocidade, a imprudência de condutores — tanto de motos quanto de carros —, a falta de fiscalização contínua e a precariedade das vias. Ele destaca ainda que muitos motociclistas, sobretudo os que trabalham com entregas por aplicativo, atuam sob forte pressão de tempo, o que favorece condutas de risco.

“O planejamento viário de Goiânia ainda privilegia o transporte individual em carros e não contempla, com prioridade, a segurança dos motociclistas”, critica. O especialista sugere que o poder público invista em infraestrutura adequada, como faixas de retenção exclusivas, pavimentação de qualidade, sinalização eficiente e campanhas educativas, especialmente por meio de blitz.

Sobre a proposta de faixas exclusivas para motos, Jean Damas faz uma ressalva: “Essa medida precisa ser analisada com cautela. Pode oferecer mais previsibilidade aos deslocamentos, mas também aumentar conflitos com ônibus. É essencial fazer estudos técnicos prévios e, se necessário, implementar faixas compartilhadas com regras claras”.

Outro ponto destacado é a deterioração das vias. “Buracos, cruzamentos mal projetados, ausência de sinalização e iluminação precária aumentam a vulnerabilidade dos motociclistas. Uma infraestrutura segura precisa considerar a moto como parte da mobilidade urbana”, defende.

O especialista também critica a falta de capacitação e a jornada exaustiva de entregadores por aplicativo. “É essencial criar políticas públicas que envolvam as empresas em campanhas educativas e iniciativas de segurança. Muitos circulam o dia inteiro sem preparo adequado”, diz.

Apesar do uso disseminado do capacete, Damas afirma que há falhas. “Muitos utilizam o equipamento de forma incorreta ou em mau estado. Outros itens de proteção, como luvas e jaquetas, ainda são negligenciados. Precisamos de campanhas de conscientização e fiscalização”.

Motoqueiros aguardam para fazer entregas l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Ele defende a modernização da legislação para regulamentar condições mínimas de segurança nos serviços de entrega, e propõe metas específicas de redução de sinistros com motociclistas, alinhadas à política de Visão Zero. Entre as medidas sugeridas, estão:

  • Ampliação de faixas de retenção para motos nos semáforos;
  • Educação permanente para o trânsito;
  • Fiscalização orientada por dados;
  • Regulamentação da atividade de entregadores;
  • Melhoria na pavimentação, sinalização e iluminação pública;
  • Criação de centros de treinamento para motociclistas.

Para Jean Damas, a responsabilidade é coletiva: “Os motociclistas, os motoristas, o poder público, as empresas de entrega e a sociedade têm papéis a desempenhar. O trânsito seguro depende de um esforço conjunto, com políticas bem planejadas, infraestrutura adequada e comportamento responsável.”

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Fonte: Jornal Opção

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