Por Marcelo Toler | Foto Capa: Coletivo de Mulheres
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A Lei Maria da Penha completa 19 anos em 2025, e mesmo com todos os avanços conquistados, os números ainda nos alertam para uma realidade preocupante. O Agosto Lilás surge como um mês de reflexão essencial sobre a violência doméstica contra a mulher, nos convidando a olhar para dentro de nossas próprias casas e relacionamentos.
Por Que Precisamos Falar Sobre Agosto Lilás?
O Agosto Lilás não é apenas uma campanha – é um chamado à ação. Nos últimos 19 anos, embora as denúncias tenham aumentado (o que pode indicar maior conscientização), a violência contra mulheres continua crescendo de forma alarmante.
Em Goiás, os dados do primeiro semestre de 2025, revelam um aumento de 10% nos casos de feminicídio, com 25 mulheres assassinadas. Esses números representam muito mais que estatísticas: são vidas perdidas, famílias destroçadas e sonhos interrompidos.
A Realidade Por Trás dos Números
Quando falamos sobre violência doméstica, não estamos falando apenas de agressões físicas. A violência contra a mulher se manifesta de diversas formas:
- Violência psicológica: humilhações, chantagens e controle excessivo
- Violência patrimonial: controle do dinheiro e bens da mulher
- Violência moral: difamação e exposição da intimidade
- Violência sexual: imposição de atos sexuais contra a vontade
Você sabia que muitas vezes a violência começa de forma sutil e vai escalando com o tempo?
O Papel da Família na Transformação Social
O Coletivo de Mulheres “Liberdade de Ser” propõe uma reflexão profunda: “O que eu posso fazer na minha família para mudar essa violência contra as mulheres?”
Esta pergunta nos convida a sair da zona de conforto e assumir nossa responsabilidade individual na construção de uma sociedade mais justa e segura.
Mudando Comportamentos Desde Casa
A transformação social começa em casa. Aqui estão algumas ações práticas que cada família pode implementar:
Para pais e mães:
- Eduque seus filhos sobre igualdade de gênero desde cedo
- Questione brincadeiras e piadas que diminuem as mulheres
- Divida tarefas domésticas igualmente entre todos
- Demonstre respeito mútuo no relacionamento conjugal
Para casais:
- Pratique a comunicação não-violenta em discussões
- Respeite os limites e decisões da parceira
- Compartilhe responsabilidades financeiras e domésticas
- Busque ajuda profissional quando necessário
Desconstruindo o Machismo Estrutural em Casa
O machismo estrutural não é apenas um conceito acadêmico – ele se manifesta em pequenas atitudes do dia a dia que muitas vezes passam despercebidas.
Sinais de Machismo Estrutural na Família
Reflita sobre estas situações comuns:
- As mulheres da família sempre cuidam da casa e das crianças?
- As opiniões femininas são levadas a sério nas decisões importantes?
- Existe cobrança diferente sobre comportamento entre filhos e filhas?
- As mulheres têm autonomia financeira e liberdade de escolhas?
Se você identificou alguns desses padrões, não se sinta culpado – use isso como ponto de partida para mudanças positivas.
Ações Práticas Para o Agosto Lilás
1. Educação e Diálogo Familiar
Promova conversas abertas sobre:
- Consentimento e respeito mútuo
- Direitos das mulheres
- Identificação de relacionamentos abusivos
- Importância da denúncia
2. Apoio à Rede de Proteção
- Conheça os canais de denúncia: 180, 190 e 197
- Esteja atento aos sinais de violência em vizinhas e amigas
- Ofereça apoio sem julgamentos
- Divulgue informações sobre direitos e proteção
3. Revisão de Padrões Comportamentais
Questione-se:
- Como eu trato as mulheres da minha família?
- Minhas atitudes contribuem para a igualdade ou perpetuam desigualdades?
- Estou ensinando meus filhos a respeitarem todas as pessoas?
A Importância da Autonomia Feminina
Defender e exigir a autonomia da mulher vai além de discursos – requer ações concretas no ambiente familiar.
Promovendo Autonomia em Casa
- Autonomia financeira: Incentive que mulheres trabalhem e tenham controle sobre suas finanças
- Autonomia corporal: Respeite escolhas sobre aparência, sexualidade e maternidade
- Autonomia social: Apoie relacionamentos e atividades escolhidos livremente
- Autonomia profissional: Valorize e apoie objetivos de carreira femininos
Lembre-se: uma mulher autônoma é uma mulher mais protegida contra violências.
Como Identificar e Interromper Ciclos de Violência
A violência doméstica geralmente segue um padrão cíclico que pode ser interrompido com intervenção adequada.
O Ciclo da Violência Doméstica
- Tensão: Aumento gradual de conflitos
- Agressão: Explosão violenta
- Reconciliação: Pedidos de desculpa e promessas
- Lua de mel: Período aparentemente tranquilo
Interrompendo o Ciclo
- Reconheça os sinais: Não normalize comportamentos controladores
- Busque ajuda: Procure profissionais especializados
- Crie rede de apoio: Mantenha contato com amigos e família
- Documente evidências: Registre agressões e ameaças
Recursos de Ajuda e Proteção
Canais de Denúncia e Apoio
- Central de Atendimento à Mulher: 180 (24 horas, gratuito)
- Polícia Militar: 190
- Polícia Civil: 197
- Disque Direitos Humanos: 100
Serviços Especializados
- Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs)
- Casas-abrigo e centros de referência
- Defensoria Pública
- Centros de Atendimento Psicossocial
Não hesite em buscar ajuda – existem profissionais preparados para acolher e orientar.
O Papel dos Homens na Transformação
A mudança efetiva no cenário de violência contra mulheres passa necessariamente pelo engajamento masculino. Homens também podem e devem ser protagonistas dessa transformação.
Como Homens Podem Contribuir
- Questionar privilégios: Reconhecer vantagens históricas e trabalhar pela igualdade
- Educar outros homens: Confrontar discursos e atitudes machistas
- Apoiar mulheres: Amplificar vozes femininas em espaços de poder
- Buscar autoconhecimento: Trabalhar questões emocionais e comportamentais
Construindo uma Nova Narrativa Familiar
O Agosto Lilás nos convida a reescrever a história das nossas famílias, criando narrativas baseadas em respeito, igualdade e amor verdadeiro.
Valores Para Uma Família Mais Justa
- Respeito mútuo em todas as relações
- Comunicação não-violenta para resolver conflitos
- Igualdade de oportunidades independente do gênero
- Apoio incondicional aos sonhos e projetos de todos
- Proteção coletiva contra qualquer forma de violência