As esperanças destruídas de uma geração inteira levaram a protestos no Nepal

As esperanças destruídas de uma geração inteira levaram a protestos no Nepal

Religião

As manifestações, desencadeadas pelo bloqueio das redes sociais, forçaram a renúncia do primeiro-ministro. A mobilização dos jovens reflete a profunda desilusão com um sistema político que traiu as esperanças nascidas da adoção da democracia. As dificuldades econômicas estão levando muitos a emigrar, e protestos pedindo o retorno da monarquia como alternativa à corrupção partidária já haviam eclodido em abril.

Vatican News com AsiaNews

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Após dois dias de intensos protestos, o exército nepalês reforçou a segurança em torno do Parlamento. Revoltas eclodiram na manhã de segunda-feira após o bloqueio de várias plataformas de redes sociais, que criticavam ministros e suas famílias por seus estilos de vida. A proibição das plataformas digitais, no entanto, parece ter sido apenas o gatilho: a corrupção e o comportamento do governo estão na raiz da mobilização da Geração Z.

O levantamento da proibição e a renúncia do ministro do Interior, Ramesh Lekhah, não foram suficientes para acalmar os manifestantes. Na terça-feira, 9, vários incêndios foram ateados em prédios governamentais, incluindo o Parlamento, e em casas de políticos e altos executivos. Os protestos chegaram ao ponto de forçar a renúncia do primeiro-ministro Khadga Prasad Oli. Mesmo essa renúncia, no entanto, teve pouco efeito. Dezenas de milhares de pessoas continuaram a ocupar as ruas até a noite, bloqueando estradas e atacando ministros e líderes políticos. Vídeos que circulam on-line mostram o ataque ao líder do Partido do Congresso, Sher Bahadur Deuba, e sua esposa, Arzu Rana Deuba, atual ministra das Relações Exteriores. Este incidente reflete o profundo descontentamento dos jovens nepaleses, que sofrem com o desemprego severo e são forçados a emigrar em busca de um futuro.


Um oficial do Exército nepalês patrulha as ruas de Katmandu, Nepal, em 10 de setembro de 2025, após manifestações violentas que destruíram importantes prédios governamentais, incluindo o Parlamento e a Secretaria de Governo, Singha Durbar. O protesto, que começou em 8 de setembro, foi liderado por um grupo de jovens que se identificam como Geração Z, contra a corrupção e a proibição de redes sociais imposta pelo governo. EPA/NARENDRA SHRESTHA   (ANSA)

Segundo analistas, a indignação da sociedade nepalesa decorre do colapso das esperanças que acompanharam a chegada do governo democrático em 2006, após a queda da monarquia como consequência da guerra civil, e novamente em 2015, com a adoção da nova Constituição. Ambos os momentos deveriam ter marcado o início de uma nova era para o país, marcada por maior estabilidade econômica.

No entanto, segundo alguns comentaristas, os políticos que se alternaram no poder não conseguiram atender às demandas das gerações mais jovens, levando a uma profunda desilusão e ao descontentamento generalizado com todo o sistema político, que se caracteriza pela simples alternância dos três principais partidos políticos. A mesma dinâmica foi observada nos últimos anos em Bangladesh, com a queda da primeira-ministra Sheikh Hasina no ano passado, mas especialmente no Sri Lanka, onde a família Rajapaksa foi destituída do poder em 2022.

Um jovem entra nas instalações do escritório do Departamento de Administração de Transportes para fazer limpeza, durante o toque de recolher após o assassinato de 19 pessoas na segunda-feira, após protestos anticorrupção, desencadeados por uma proibição de mídia social, posteriormente suspensa, em Katmandu, Nepal, em 10 de setembro de 2025. REUTERS/Adnan Abidi

Um jovem entra nas instalações do escritório do Departamento de Administração de Transportes para fazer limpeza, durante o toque de recolher após o assassinato de 19 pessoas na segunda-feira, após protestos anticorrupção, desencadeados por uma proibição de mídia social, posteriormente suspensa, em Katmandu, Nepal, em 10 de setembro de 2025. REUTERS/Adnan Abidi

Muitos jovens se sentem sem esperança no Nepal e são forçados a emigrar em busca de oportunidades. Aproximadamente 20% da população vive abaixo da linha da pobreza, enquanto as remessas somam aproximadamente US$ 10 bilhões anualmente.

Os protestos foram descritos como um movimento impulsionado principalmente pela “Geração Z”, aqueles nascidos entre 1995 e 2010. Uma figura proeminente que surgiu como catalisadora do movimento é o jovem prefeito de Katmandu, Balen Shah, nascido em 1990, rapper e eleito como candidato independente em 2022.

Os recentes protestos não são um incidente isolado: em abril, vários grupos civis se reuniram em frente ao Parlamento da capital para exigir reformas concretas, ações decisivas para enfrentar a crise econômica e medidas para combater a corrupção generalizada. Nesse clima de forte dissidência, grupos políticos como o Partido Rastriya Prajatantra (RPP), próximo aos círculos hindus, ganharam novo impulso, reiterando a ideia de um retorno à monarquia como solução para a corrupção e a disfunção governamental.

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