Proprietários rurais de Porangatu, no norte de Goiás, estão preocupados com a recorrência de ataques de onças a animais em suas propriedades. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA) confirmou à reportagem que pelo menos duas onças-pardas (Puma concolor) habitam uma região a cerca de 24 quilômetros da cidade. A informação foi repassada ao Jornal Opção pelo secretário da pasta, Igor Guimarães Pinheiro.
Raimundo Gomes, que possui uma fazenda a cerca de 45 quilômetros da cidade, conta que os ataques de felinos a rebanhos são frequentes. “Isso é desde sempre. Direto ouvimos relatos de fazendeiros dizendo que a onça comeu um bezerro ou uma vaca etc.”, relatou.
Segundo ele, há poucos meses, uma onça atacou um bezerro recém-nascido em sua propriedade. O animal só sobreviveu porque a vaca, ao tentar proteger a cria, enfrentou o felino. “A mãe era muito brava. Para defender o bezerro, revidou o ataque da onça. Depois de uma longa briga, ela conseguiu fazer a onça fugir”, contou. Apesar da resistência, tanto a vaca quanto o bezerro ficaram bastante feridos, mas sobreviveram.
Raimundo afirma ainda que é comum encontrar rastros dos animais pelas propriedades, especialmente perto dos rios da região. “A gente vai para pescaria e é comum ver as pisadas delas pelo caminho”, comentou.
Ele também destacou que, devido aos prejuízos financeiros causados pelas onças, muitos proprietários acabam matando os animais quando têm a chance. “Quando a onça pega uma presa, dependendo do tamanho, ela não come tudo de uma vez. Ela esconde parte da carcaça, e os fazendeiros encontram esses restos. Às vezes, colocam veneno ou ficam esperando a onça voltar e aí as matam”, disse.
O secretário informou que monitora a região com armadilhas fotográficas e equipes de campo, e orienta os produtores sobre como agir em casos de avistamento ou ataques.
Porangatu pede ajuda estadual e federal para lidar com ataques de onças-pardas
Segundo Igor Guimarães, a confirmação foi feita por meio de armadilhas fotográficas e pela visualização direta dos animais por uma equipe composta por dois biólogos, um médico veterinário e um fiscal ambiental. “Até o momento, já foram registrados oficialmente quatro episódios de predação, todos envolvendo animais de criação, como ovinos, caprinos e bezerros”, informou. “Mas também há relatos extraoficiais de ao menos 18 ataques a animais de produção.”

Guimarães ressaltou que, até agora, não há registros de ataques a pessoas. No entanto, ele avalia que a recorrente aproximação dos felinos às propriedades e sua pouca reação às tentativas de afugentamento justificam atenção redobrada. “Compreendemos que a proximidade desses felinos com sedes de propriedades rurais, e a habitualidade que eles têm demonstrado à presença humana, trazem a necessidade de um cuidado especial com o caso.”
A Semma afirma que não há indícios de escassez alimentar na fauna silvestre local que justificariam um deslocamento anormal dos animais. “O que se observa é um comportamento de fixação territorial, possivelmente facilitado pela oferta fácil de presas domesticadas. Inclusive, nas próprias armadilhas fotográficas e nas vistorias, foram detectadas diversas presas silvestres das quais esses animais poderiam se alimentar”, explicou.
Diante da situação, a secretaria montou uma força-tarefa que atua na região há cerca de 15 dias, em regime ininterrupto. “Estamos monitorando com drones e armadilhas fotográficas e aplicando medidas de afugentamento sonoro e visual para desencorajar a permanência dos felinos. As propriedades desse raio monitorado recebem visitas diárias da nossa equipe, que coleta informações e orienta os produtores sobre manejo”, disse Guimarães.
Apesar do esforço local, Igor criticou a ausência de apoio prático por parte dos órgãos estaduais e federais. “Tentamos articulação com a Semad, o Ibama e o ICMBio, mas não tivemos nenhuma parceria concreta além do envio de cartilhas orientativas por e-mail. Já tomamos todas as medidas legais cabíveis à Semma enquanto órgão municipal, mas estamos no nosso limite”, afirmou.
Para o secretário, é preciso uma atuação conjunta para evitar uma tragédia. “Enquanto as onças-pintadas do Araguaia recebem equipes, projetos, recursos e atenção institucional, aqui enfrentamos um conflito direto entre fauna silvestre e produção agropecuária. Tivemos um ataque recente em Campinaçu, município vizinho, o que mostra que o problema é regional e se agrava a cada dia.”

Guimarães afirma que os próprios produtores têm buscado soluções legais. “Eles não querem recorrer à caça ou ao envenenamento. Eles querem continuar produzindo com paz e reconhecem que os animais também têm seu lugar. Mas a legislação não nos permite fazer mais do que já fizemos.”
O secretário reforça que é possível proteger tanto os rebanhos quanto a fauna silvestre, desde que haja união e responsabilidade. “Reafirmamos: é possível proteger vidas humanas, o rebanho e a onça-parda. Mas isso exige unidade entre os entes federativos, legalidade e atuação integrada. O município está no limite de suas atribuições. O Cerrado do norte de Goiás também precisa ser prioridade para as outras instituições”, concluiu.
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