A diocese de Castanhal (PA), acolhe de 24 a 27 de julho o 1° Nortão da Catequese, com a presença de mais de 300 catequistas dos Regionais Norte 1, Norte 2, Norte 3 e Noroeste da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O tema do encontro é “Iniciação à Vida Cristã na Amazônia: Anúncio, Mistagogia e Ecologia Integral”.
Padre Modino – Manaus
Em sua reflexão sobre “A Igreja deve crescer na Amazônia (QA 66): Querigma, um anúncio de Esperança”, o arcebispo de Manaus e presidente do Regional Norte 1 da CNBB, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, tentou demonstrar “a relevância, a identidade e as características do anúncio querigmático no território amazônico, iluminado pelas reflexões do Jubileu 2025, tendo em conta que os povos da Amazônia ‘têm direito ao anúncio evangelizador’, (QA, 64); o Evangelho da Esperança”.
O Documento Final do Sínodo sobre a Sinodalidade nos leva a dizer, segundo o cardeal Steiner, que “somos todos enviados para anunciar Jesus nossa Esperança.” Ele explicou a origem da palavra catequese, “instruir por viva voz”, insistindo em que “a Catequese é anúncio”. Inspirado na Evangelii Nuntiandi de São Paulo VI, o arcebispo de Manaus falou de “anúncio decisivo para a vida da Igreja, para ser Igreja”, de ser crístico, de “chegarmos, todos juntos, à unidade na fé e conhecimento do Filho de Deus”, segundo ensina São Paulo.
Fazer ecoar o novo Reino
O cardeal lembrou a importância significativa da catequese, segundo São João Paulo II, uma importância que brota dos Evangelhos, que leva a ver a catequese como “fazer ecoar pelo mundo inteiro o novo Reino, o Reino de amor, a vida da Trindade, a todas as criaturas, como Jesus com sua vida, palavra, gestos, morte e ressurreição”. Se trata, seguindo as palavras do Catecismo da Igreja, de fazer discípulos e discípulas, de aprofundar na fé. O Papa Francisco ressaltava a presença no Novo Testamento de batizados que exerceram o ministério de transmitir o ensinamento dos apóstolos. Nesse sentido, o arcebispo de Manaus vê a catequese como “o ecoar da vida recebida de Jesus Crucificado-Ressuscitado, o Reino de Deus”, uma ideia presente em Lumen Gentium. Mas também, seria “a possibilitação de encontro, um modo de ser que gera relações novas, uma nova fraternidade, leva à pertença a uma nova comunidade”.
Um anúncio que “deve ressoar constantemente na Amazônia”, enfatizou o presidente do Regional Norte 1 da CNBB, seguindo Querida Amazônia. Ele mostrou que o Documento Santarém, em 1972, “sinalizou que a evangelização tornaria visível a Jesus crucificado-ressuscitado pela encarnação na realidade e pela libertação dos filhos e filhas de Deus.” Isso porque a catequese “deseja despertar para a presencialização de Deus na realidade de hoje na Amazônia”, que demanda uma “catequese que leve em consideração a realidade concreta das comunidades”, sublinhou o cardeal. Uma catequese que seja “evangelização libertadora”, e “não seja um código de doutrinas, um manual de moral, de regras a serem seguidas”.
Cresce na vida em Cristo com rosto amazônico
“A catequese possibilita crescer na identidade cristã, na vida em Cristo. A vida em Cristo com rosto amazônico”, segundo o cardeal. Ele refletiu sobre o conceito de identidade, como “um processo existencial de ser”, e afirmou que “identidade cristã tem a ver com o que damos ao nosso ser discípulo missionário, discípula missionária”, e junto com isso, “é a responsabilidade em ser sempre cada vez mais livremente discípula missionária, discípulo missionário.” Por isso, “a catequese deveria ser esse despertar para possibilitar uma participação, um pertencimento a Cristo”.
Um iniciar à vida cristã que acontece na comunidade, que cuida para que “haja a catequista, o catequista, que ajude à iniciação à vida cristã, no aprofundamento da vida segundo o Evangelho.” Na Amazônia isso se concretiza nas Comunidades Eclesiais de Base, “primeiro e fundamental núcleo eclesial, que deve, em seu próprio nível, responsabilizar-se pela riqueza e expansão da fé”, seguindo a proposta de Medellín e Santarém. Uma dinâmica que tem a ver com a sinodalidade, tão presente na Amazônia. É por isso que “a catequese numa comunidade de espírito sinodal na Amazônia, desperta a comunidade para a presença estável de responsáveis leigos, maduros e dotados de autoridade”.
Um processo necessário de inculturação
Para crescer na Amazônia, a Igreja deve, afirmou o arcebispo de Manaus, “moldar a sua própria identidade na escuta e diálogo com as pessoas e realidades e histórias do território, desenvolvendo cada vez mais um processo necessário de inculturação”, com uma catequese que não despreza as culturas amazônicas, nem “a riqueza de sabedoria cristã transmitida ao longo dos séculos pela piedade das comunidades.” Ele lembrou a insistência de Papa Francisco na inculturação, pois “a graça supõe a cultura”, em um movimento duplo, uma dinâmica de fecundação e outro de recepção por parte da Igreja. Nessa perspectiva, “a catequese aberta à receptividade das culturas, por exemplo indígenas, torna-se uma riqueza para a evangelização, para ser e existir da Igreja”, segundo o cardeal, citando exemplos disso.
Uma inculturação que “tem a ver em formar catequistas indígenas”, com “ministérios que sejam expressão do estilo de vida, da cultura do povo”, com um acolher as riquezas culturais na catequese, na liturgia, nos Sacramentos, na organização da comunidade eclesial e os ministérios. Diante da realidade amazônica, marcada por diversas dificuldades, “o ministério do catequista recebe nessa realidade uma verdadeira missão: realizar o querigma”, disse o arcebispo de Manaus. Ele insistiu em que “para conseguir uma renovada inculturação do Evangelho na Amazônia, a Igreja precisa escutar a sabedoria ancestral, voltar a dar voz aos idosos, reconhecer os valores presentes no estilo de vida das comunidades nativas, recuperar a tempo as preciosas narrações dos povos”, reconhecendo os valores já recebidos dos povos da Amazônia.
Uma catequese chamada a ser hermenêutica da totalidade, presente nos quatro sonhos de Querida Amazônia, que são dimensões do todo. O arcebispo defende “uma sensibilidade para não impor, mais uma vez, a cultura, as expressões religiosas, as devoções.” Nesse sentido, ele insiste em que “as estruturas sociais, as expressões culturais, os seres na sua totalidade, a comunidade de fé, necessitam ser levados em consideração na catequese, pois fazem parte da experiência diária de fé, na encarnação e libertação, especialmente na Amazônia.” É por isso, que “uma hermenêutica da totalidade oferece à catequese um horizonte que ilumina o todo da vida da comunidade, a missão da Igreja”, remarcou.
Despertar para uma conversão
Não pode ser esquecido que “a catequese desperta para uma conversão, mudança de vida, transformação, transfiguração, consumação, a vida em plenitude”, uma conversão também ecológica, que a Igreja deve considerar. Uma catequese que “pode abrir o horizonte da gratidão e da gratuidade”, da fraternidade e irmandade universal. Mas também faz realidade uma Igreja sinodal em missão, dado que a sinodalidade, segundo o Documento Final do Sínodo sobre a Sinodalidade, “é um caminho de renovação espiritual e de reforma estrutural para tornar a Igreja mais participativa e missionária”, e esse é um desafio para a catequese, fomentando a participação de todos, em comunidades que se sentem “missionárias, anunciadoras, acolhedoras, consoladoras, solidárias”.
“A catequese sinodal, desperta para a grandeza e a beleza de ser Igreja”, com comunidades dirigidas por leigos, na sua maioria por mulheres, que visibiliza a Igreja das origens e a força das comunidades. Uma Igreja que escuta, serve e acompanha, e que na catequese descobre seu ser “misericordiosa e cheia de compaixão” e a necessidade “envolver a todos no ser Igreja.” Um ser catequista que “presencializa pela Iniciação o ensinar e viver de Jesus Cristo”. E isso tem que ser feito, seguindo o pensamento de Santo Agostinho, com indignação e coragem, para assim experimentar que “a catequista, o catequista, tomada pela força do Evangelho e iluminada pelo Espírito Santo, vive e ecoa o Evangelho da Esperança de modo inquieto e corajoso”.