O bolsonarismo não engole o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, do MDB. Aos aliados, o ex-presidente Jair Bolsonaro costuma mostrar irritação com o fato de que a Justiça “pegou” Anderson Torres e deixou “escapar” o gestor distrital.
Bolsonaristas costumam sugerir que Ibaneis Rocha é o “queridinho” do Supremo Tribunal Federal. O que pode ser mero preconceito pelo fato de que o governador, não sendo radical, optou por não atacar nenhum dos ministros, como Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso.

Ao dizer que não tem compromisso com Ibaneis Rocha para a disputa de uma vaga ao Senado, Michelle Bolsonaro — pré-candidata a senadora, superfavorita — sugeriu que tem compromisso com outros políticos.
Há indícios de que Michelle Bolsonaro prefere, para companheira de chapa, a deputada federal Bia Kicis, do PL. “Porque Bia Kicis pertence ao núcleo duro do bolsonarismo na Câmara dos Deputados e, se eleita senadora, comporia com as ideias de Jair Bolsonaro, como propor impeachment de ministros do STF, como Alexandre de Moraes”, disse um bolsonarista de Brasília ao Jornal Opção.

Entre Fred Linhares e Bia Kicis, Michelle Bolsonaro fica com a segunda. Mas, se há resistência ao nome de Ibaneis Rocha, não o há em referência a Fred Linhares, que pertence ao Republicanos da senadora Damares Alves.
Ibaneis Rocha precisará, portanto, fazer uma reengenharia política. Mesmo sendo governador, por dois mandatos, pode acabar sendo o candidato a senador outsider, quer dizer, fora da linha de apoio do bolsonarismo.

Aliados de Ibaneis Rocha avaliam que ele não tem condições de superar Michelle Bolsonaro, mas pode ganhar do segundo nome do bolsonarismo — Bia Kicis ou Fred Linhares. Difícil? Sim. Mas a estrutura do governador pode fazer a diferença.
O ex-tucano Izalci Lucas, filiado ao PL, com ligações com Valdemar Costa Neto — o homem do cofre de 1 bilhão de reais —, planeja disputar o governo do Distrito Federal. O problema é que o bolsonarismo não o leva a sério. Quer dizer, não dialoga com ele.

Por isso, Izalci Lucas poderá se tornar vice de Celina Leão. Com o beneplácito do presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. Aquele que se tornar vice de Celina Leão poderá, em 2030, se tornar governador e, daí, candidato natural à reeleição. Claro, se a líder do pP for eleita em 2026.
Quanto a Celina Leão, o bolsonarismo parece que a definiu como candidata a governadora, sobretudo porque pertence ao pP do senador Ciro Nogueira, que vem articulando fortemente com Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas.

Mas o bolsonarismo deixou um nome de sobreaviso para o governo do DF: Damares Alves. Se o pP escapar da aliança presidencial bolsonarista, a senadora do Republicanos pode, de repente, aparecer como candidata a governadora.
Enfim, o bolsonarismo está dizendo, para os políticos, que o jogo majoritário no Distrito Federal é definido por Jair Bolsonaro e Michelle Bolsonaro. A ex-primeira-dama ficou encarregada de passar os recados do bolsonarismo aos agentes políticos do DF. Quem não quiser ouvi-la poderá ser atropelado política e eleitoralmente. Há quem diga que Ibaneis Rocha subestimou a força da mulher do ex-presidente. (E.F.B.)