Entenda como o óleo de pequi pode ajudar no tratamento da osteoartrite

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Odiado por alguns e amado por outros, uma fruta do Cerrado, marcada por sabor intenso e cor vibrante, está ganhado destaque nas pesquisas científicas do Brasil. Pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) têm investigado o potencial do óleo de pequi no tratamento de osteoartrite (artrose) — condição degenerativa que afeta as articulações do corpo.

Apesar de ainda figurar como protagonista no combate à osteoartrite, o tratamento convencional — baseado no uso de anti-inflamatórios e analgésicos — carrega em sua fórmula um fardo que vai além da dor. Úlceras gástricas, hipertensão e disfunções renais são efeitos colaterais que, com o tempo, deixam de ser exceção para se tornarem parte do próprio enredo da doença. A dependência aos medicamentos e o impacto sobre a qualidade de vida dos pacientes têm feito com que a ciência olhe para outros caminhos — menos agressivos, mais naturais.

Extraído dos frutos do pequizeiro, o óleo concentra substâncias com comprovada ação anti-inflamatória e antioxidante. Agora, pesquisadores buscam dar um passo além: utilizam a nanotecnologia para potencializar a entrega dos compostos ativos do óleo, numa tentativa de oferecer à medicina um tratamento mais eficaz e gentil com o organismo. Em vez de sufocar a dor com força, a proposta é envolvê-la com inteligência.

“Essa avaliação foi realizada com um grupo de mulheres de meia idade, e essas mulheres são portadoras da osteoartrite de joelho, que é uma condição muito prevalente e muito comum, e é uma condição que causa muita dor e incapacidade de se locomover”, explicou ao Jornal Opção Ricardo Neves, que coordena, juntamente com a professora Stephania Fleury, o Laboratório NanoSYS da UFG.

A osteoartrite é uma condição degenerativa que afeta as articulações, especialmente as de carga, como joelhos, quadris e coluna. A doença é uma das principais causas de dor crônica e limitações de mobilidade, afetando milhões de pessoas em todo o mundo, especialmente aquelas a partir de 65 anos de idade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019 cerca de 528 milhões de pessoas em todo o mundo viviam com osteoartrite; um aumento de 113% desde 1990.

Já um estudo realizado pelo Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, apontou que aproximadamente 1 bilhão de pessoas sofrerá com a doença até 2050. No Brasil, a doença é uma das mais prevalentes, especialmente em mulheres, devido à predisposição genética, idade avançada e fatores hormonais.

“A formulação contém nano sistemas, que são sistemas muito pequenos e eles conseguem interagir com essa barreira da pele. Nossa barreira é muito justaposta e difícil de penetrar, essas substâncias conseguem desorganizar de uma forma controlada para que o ativo então consiga penetrar para as camadas mais profundas da pele”, detalhou Stephania Fleury ao Jornal Opção.

Método de pesquisa

O trabalho foi realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e com a Universidade Regional do Cariri (Urca).

Em ensaios clínicos realizados na UFS, em que o produto foi testado em 50 mulheres com osteoartrite de joelho, foi possível observar uma melhora significativa na dor e na funcionalidade das articulações após o uso do spray de pequi formulado com nanotecnologia. Elas tinham entre 40 e 65 anos de idade e foram selecionadas pelo Ambulatório de Reumatologia do Hospital Universitário de Sergipe (HU-UFS).

Para superar a baixa penetração do óleo pela pele, os cientistas recorreram à nanotecnologia. O óleo foi encapsulado em partículas minúsculas envoltas por um polímero chamado policaprolactona (PCL), formando um hidrogel que permite melhor absorção e reduz os riscos de irritação.

A formulação passou por uma rigorosa fase de testes laboratoriais. Foram avaliados o tamanho das partículas, o índice de polidispersão (indicador da uniformidade), o pH e o potencial zeta (indicador da estabilidade da suspensão). A estrutura das nanocápsulas também foi examinada por microscopia eletrônica.

Além disso, testes de citotoxicidade (avaliando se a substância é tóxica às células) e de irritabilidade na pele foram realizados com voluntárias saudáveis, sem efeitos adversos significativos.

Evidências de melhora clínica

A etapa seguinte do estudo envolveu 19 mulheres com osteoartrite de joelho moderada a grave. Elas foram divididas aleatoriamente em dois grupos: um recebeu o gel com óleo de pequi nanoencapsulado (grupo de tratamento) e o outro recebeu apenas o gel base (placebo), ambos aplicados topicamente por três semanas.

Para medir os resultados, os pesquisadores utilizaram a Escala de Lysholm, uma ferramenta clínica que avalia sintomas como dor, instabilidade e capacidade funcional do joelho. As avaliações foram feitas no início e ao final do tratamento.

As mulheres que usaram o gel com óleo de pequi relataram melhora significativa nos sintomas, enquanto o grupo placebo apresentou pouco ou nenhum progresso.

Perspectivas e desafios

Os autores ressaltam que os resultados são promissores e apontam o óleo de pequi como uma alternativa natural eficaz no alívio de dores articulares, especialmente quando formulado com tecnologia de nanoencapsulação.

Apesar da amostra pequena e do tempo limitado de acompanhamento, o estudo abre caminho para novas pesquisas com maior número de participantes e acompanhamento de longo prazo. Além disso, a pesquisa fortalece o uso sustentável de recursos naturais do Cerrado e valoriza o conhecimento tradicional da população nordestina.

Apesar dos avanços, o projeto enfrenta desafios, principalmente em relação à produção em larga escala do spray de pequi. “O desenvolvimento do produto é um processo demorado, e um dos maiores obstáculos é garantir a produção em larga escala de maneira sustentável”, afirma Ricardo. Para viabilizar a comercialização, a equipe de pesquisa busca parcerias com o Polo Farmacêutico de Goiás, que pode apoiar a produção em maior escala, além de garantir a qualidade e segurança dos produtos.

Outro desafio é o financiamento. A falta de investimentos em pesquisas sobre a biodiversidade brasileira ainda é um problema. “O governo poderia investir mais em pesquisas que envolvem a biodiversidade do país. Temos uma riqueza imensa de plantas medicinais, e muitas delas ainda não foram estudadas a fundo. Investir nesse tipo de pesquisa é garantir um futuro mais saudável e sustentável para a população”, considera o professor da UFG, destacando que a colaboração com o governo, empresas e outras instituições de pesquisa é fundamental para o sucesso do projeto.

Para entender melhor o assunto, assista a reportagem em vídeo abaixo.

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Fonte: Jornal Opção

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