Interdições constantes no tráfego da ponte sobre o Rio das Almas sugerem problemas estruturais, diz motorista

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Na manhã de terça-feira, 27, uma longa fila de veículos foi registrada na ponte sobre o Rio das Almas, na BR 153, entre Rialma e Jardim Paulista, no Norte de Goiás. A equipe do Jornal Opção, que seguia para o município de Alto Horizonte, encontrou caminhões, ônibus e carros parados nos dois sentidos da via. De acordo com motoristas, a retenção ocorreu devido a uma vistoria técnica na estrutura da ponte.

Vale ressaltar que o Jornal Opção foi um dos primeiros veículos de comunicação a divulgar matérias e reportagens sobre esse assunto, alertando as autoridades sobre os graves problemas estruturais na ponte, segundo especialistas.

Com mais de 30 anos de estrada, o caminhoneiro Eduardo Henrique Soares, de 50 anos, afirmou que atravessa a ponte diariamente e que a situação inspira preocupação. “A gente fica meio cismado, mas não pode parar, porque precisa levar a comida pro povo”, disse.

Eduardo Henrique: “às vezes está passando de um em um caminhão” l Foto: Fabio Costa/Jornal Opção

Segundo ele, seu caminhão transporta até 50 toneladas de carga — quase o dobro da capacidade original da ponte, projetada para suportar cerca de 30 toneladas. “O senhor já viu o tamanho dos caminhões de cana com mais de 100 toneladas que passa aí?”, questionou, apontando para o tráfego constante de veículos pesados na região.

Eduardo também relatou que interrupções na ponte têm sido frequentes. “O fato de estar parado aqui esperando alguma coisa e sempre estar acontecendo alguma interdição nessa ponte significa que tem algo de errado. Eles falaram que ia parar ela, falaram que era para arrumar. Às vezes está passando de um em um caminhão.”

Para ele, o risco é evidente. “Está com problema. Eles estão admitindo que realmente a ponte está com problema. E outra coisa, eles admitem, mas vão deixar cair, depois que morrer gente é que eles vão arrumar”, alertou. O caminhoneiro ainda fez referência ao desabamento da ponte sobre o Rio Tocantins, no Maranhão, ocorrido em dezembro de 2024. “Dá medo demais de passar aqui. E outra coisa, quantos pais de família estão arriscando? No caminhão vai só o motorista. E nos ônibus, que são mais de 40 pessoas?”

Roseli Crispim, de 53 anos, também aguardava liberação da via. Ela dirigia um bitrem carregado de combustível e estava na liderança da fila de veículos. “Eu não sabia, descobri em conversas com outros colegas de trabalho e confesso que meu coração bateu mais forte. Dá medo sim”, relatou.

Roseli Crispim: “dá medo sim” l Foto: Fabio Costa/Jornal Opção

Com 18 anos de experiência ao volante, Roseli afirmou que o temor de um colapso aumentou após o acidente no Maranhão. “Na verdade, depois daquele acidente no Estreito, o coração sempre acelera quando chego em uma ponte”, disse. Ela fez um apelo: “Tomara que arrumem essa ponte antes que coisa pior aconteça aqui.”

Engenheiro aponta falhas estruturais e falta de fiscalização

O engenheiro Rodrigo da Mata, especialista com mais de 50 projetos de pontes no currículo, fez um alerta sobre a gravidade da situação da ponte sobre o Rio das Almas. Segundo ele, a falta de controle de peso dos veículos que trafegam pelo local representa um risco significativo.

“Do jeito que ela está, sem controle de peso, é perigosa. Isso é uma falha da concessionária e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que não instalaram uma balança para fiscalizar a carga dos caminhões”, afirmou.

Da Mata também destacou que a idade avançada da estrutura exige reforços urgentes. “A ponte tem uma vida útil, e com a idade avançada dela, é necessário reforço estrutural. Mas se o controle de peso não for feito, qualquer intervenção pode se tornar ineficaz”, explicou. Ele acrescentou: “Caminhões rodando com excesso de carga são um problema sério. O correto seria ter uma balança na estrada para fiscalizar. A ponte está avisando.”

O especialista fez ainda uma comparação preocupante com outra tragédia recente: “Essa ponte foi construída na década de 60, seguindo normas semelhantes às da ponte que desabou na divisa do Tocantins com o Maranhão. Ela tem problemas parecidos com a que desabou”, alertou.

Tráfego intenso sobre a ponte l Foto: Fabio Costa/Jornal Opção

Ecovias Araguaia evita responder sobre substituição de ponte

A concessionária Ecovias do Araguaia, evitou responder a questionamentos feitos pela reportagem sobre a possível substituição da ponte sobre o Rio das Almas. A empresa também não informou quando terá início a duplicação do trecho ou a construção de uma segunda ponte no local.

Em nota, a concessionária limitou-se a informar que as interdições na rodovia, no quilômetro 286, são parte de uma operação periódica de monitoramento e vistoria da estrutura da ponte. Segundo a empresa, as ações foram retomadas em abril e ocorrem por tempo indeterminado, sempre entre 11h e 12h.

Durante esse período, o tráfego sofre interdições totais de até 20 minutos ou é controlado por sistema de “pare e siga”. A Ecovias afirma que a operação faz parte das rotinas de monitoramento de todas as estruturas sob sua concessão.

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Fonte: Jornal Opção

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