As Irmãs de Jesus Crucificado Missionárias Franciscanas se dedicaram à formação humana em agosto, em Torre Canne, um distrito da cidade de Fasano, no sul da Itália, partir da pedagogia da ludicidade. “Foi uma ideia ousada de Madre Teresa de Carvalho, superiora-geral, para ajudá-las com a formação humana, cristã, espiritual e comunitária de um jeito novo e diferente por meio da arte, da pintura e de brincadeiras”, disse Ir. Rosa Martins, scalabriniana, assessora brasileira do evento.
Irmã Rosa Martins
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O evento aconteceu em Torre Canne di Fasano, na Itália, no mês de agosto, onde as Irmãs de Jesus Crucificado Missionárias Franciscanas se reuniram para a formação continuada que teve como tema ‘relações afetivas e gentileza na vida comunitária’. “Através de atividades lúdicas como a construção de montes e castelos de areia, jogos e exercícios na água, a criação artística com conchinhas e a dinâmica do jogo de peteca, – que eram sempre feitos em grupos – trabalhamos concretamente a escuta, a gentileza e o manejo das emoções. Essas vivências simbólicas fortaleceram as relações afetivas e promoveram um amadurecimento individual e na vida comunitária. Ademais, as irmãs eram livres para uma conversa individual comigo. Pude escutá-las e posso afirmar a minha alegria em perceber nelas uma vontade firme de seguir trabalhando para melhor amar e servir ao Senhor ”, relata Irmã Rosa, scalabriniana brasileira.
“Foram momentos preciosos, ricos não só de conteúdos mas sobretudo de testemunho vivo que me encheu de muita luz e esperança. Levo comigo, não só os ensinamentos recebidos mas a experiência de fraternidade e proximidade ”, escreveu Irmã Micaela, de 32 anos. Madre Teresa de Carvalho enfatizou a sua crença na formação lúdica para a vida consagrada ao afirmar que seu desejo era “que as Irmãs pudessem sentir a beleza, a alegria, a paixão de viver e testemunhar Cristo com a própria vida através do jogo, do passeio, de uma experiência no mar e no interno da comunidade”.
A formação na Itália com raízes brasileiras
De forma organizada e divertida, as religiosas dividiam as tarefas diárias. Os dias começavam com oração comunitária. Lá fora, um outro templo natural pleno de riquezas naturais e humanas para reverenciar o Criador as esperava: a praia. “Pedir licença e fazer uma prece para adentrar às dependências do mar, jogar, rezar para todos os que se encontravam ali em férias, se divertir e fazer silêncio, e exercícios na água reforçava o cuidado com a casa comum como missão da Vida Consagrada, onde tudo está interligado, conforme instrui a Laudato si’”, enfatiza Irmã Rosa.
Uma das atividades mais significativas foi a arte com conchinhas para refletir sobre a escuta que começou longe dos pincéis. “Recolher cada concha na areia era o primeiro ato de escuta, exigindo atenção aos rumores. O grupo se uniu para criar juntas uma paisagem com uma bailarina. A analogia foi que, para dançar bem, precisa-se de escuta concentrada. Da mesma forma, na Vida Consagrada, a escuta do Senhor pela Palavra e Eucaristia é essencial para superar dificuldades”, disse Irmã Maria Giulia.
Para a secretária-geral da Congregação, Irmã Mariangela, a escuta verdadeira na vida fraterna vai além das palavras, acolhendo também os silêncios e fragilidades. “Vistas de fora, as conchas parecem rígidas e fechadas, mas se nos aproximarmos com atenção, descobrimos que elas guardam um som: o eco do mar. Da mesma forma, cada irmão e irmã carrega dentro de si um mundo interior que nem sempre é imediatamente visível. A escuta paciente e respeitosa é como aproximar o ouvido de uma concha: requer silêncio, proximidade e disponibilidade para se deixar surpreender”.
A obra da bailarina, explica Irmã Verônica, foi fruto das ideias de cada uma de nós, que unimos estes pareceres e nasceu esta bela arte, cuja metáfora é fundamental para a Vida Consagrada. Se a bailarina não escuta o seu professor, não consegue se mover. Ele indica os caminhos, observa os erros e corrige. Se na comunidade não escutamos o Senhor, os superiores, e entre nós se não escutamos umas às outras, não se pode caminhar juntas. Precisa sempre da comunicação, da escuta. Se sou capaz de escutar a outra, serei capaz de escutar a voz de Deus que fala em meu coração”, afirma. Irmã Letizia, ao explicar a arte do seu grupo, contou que “o coração feito de conchinhas representava o amor que une em fraternidade as religiosas que, como flores, na diversidade, devemos juntas formar um só coração e uma só alma”.
O período formativo incluiu uma peregrinação a Gubbio, onde Francisco amansara um lobo; Assis, para rezar nos santuários de São Carlo Acutis, Francisco e Clara; e Cássia, para uma visita ao santuário de Santa Rita.