O prefeito de Goiânia, Sandro Mabel, visitou o aterro sanitário do município para mostrar o funcionamento do legal e refutar as alegações de que seria um “lixão”. A visita ocorreu após ofensiva judicial do Ministério Público de Goiás (MPGO) contra a Prefeitura de Goiânia contra a legalidade da operação do Aterro Sanitário da capital.
Mabel afirmou que o aterro está “todo coberto” e que está “bem cuidado, com muitas máquinas e tecnologia” e que o local não se trata de um “lixão”.
O prefeito detalhou a operação. Segundo ele, caminhões da Limpa Gyn descarregam lixo em uma área específica, onde tratores trabalham para empurrar e compactar os resíduos. O processo inclui a cobertura de terra quando a altura atinge 5 metros, tornando o local “bem arrumado”.
Além disso, Mabel garantiu que não “existe risco de vazamento de chorume” ou do “aterro desmoronar”. Em caso de uma “chance remota de desmoronamento”, o prefeito garantiu ‘eu “não irá atingir residência ou nada” e que o local foi feito “para evitar tais impactos”.
Por fim, o prefeito abordou a questão financeira e criticou o que classificou como “máfia do lixo”, se referindo a propostas de aterros privados. “Esses locais custariam R$ 10 milhões e não os R$ 1,5 milhão que o aterro custa hoje para a cidade. Nosso objetivo é arrumar para fazer ele funcionar direito e como precisa”, completou.
Defesa da legalidade
Na última semana, Mabel reafirmou a legalidade da operação do Aterro Sanitário da capital e classificou como “terrorismo” as avaliações negativas recentes. Em entrevista coletiva no Paço Municipal, Mabel informou que não recebeu o relatório da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), que aponta risco de desmoronamento e explosão no local.
“O aterro de Goiânia apresenta fator de segurança acima de 1,3. Não há risco de explosão por acúmulo de gás. Isso é teoria”, declarou.
Ao lado da presidente da Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA), Zilma Peixoto, Mabel afirmou que a prefeitura não teve acesso oficial ao relatório da Semad. “A prefeitura não teve acesso ao relatório da Semad”, afirmou o prefeito. A presidente da AMMA confirmou que, desde 18 de março, foi solicitada oficialmente a entrega do documento. “Até hoje estamos aguardando. Só tivemos ciência do conteúdo por meio da imprensa. Isso dificulta nosso poder de reação”, disse.
Zilma questionou a ausência de fundamentação técnica no documento estadual. “Afirmar que existe risco iminente sem apresentar cálculos, estudos ou coletas laboratoriais é temerário. Dentre os 34 itens citados no relatório, contestamos 20 por falta de embasamento técnico. Um deles afirma que não temos supervisor técnico, mas temos e foi elogiado pela Controladoria-Geral da União (CGU)”, ressaltou.
O prefeito destacou ainda que o relatório mais atualizado sobre o aterro é da própria Prefeitura, com dados de maio e junho de 2025. Ele também citou o parecer do Instituto de Planejamento e Gestão de Cidades (IPGC), divulgado neste mês, que atribuiu nota 7,5 à operação do aterro e considerou viável sua continuidade. “Agora, isso aqui não é que eu acho que pode ser viável. Isso é um fato”, completou.
Com planos de modernizar completamente o sistema nos próximos dois anos, Mabel prometeu instalar uma estação definitiva de tratamento de chorume, reaproveitar o gás gerado no local para produção de energia e implantar uma Central de Tratamento de Resíduos (CTR). “O aterro não dorme mais descoberto, ele é coberto todas as noites. Temos impermeabilização que evita infiltração no solo e infraestrutura com segurança adequada”, frisou.
Ainda segundo o prefeito, abandonar o aterro público representaria desperdiçar recursos e colocar a cidade em risco. “Abrir mão do aterro significa abandonar o local, o que aumenta os riscos. Estamos trabalhando para transformá-lo em um dos mais modernos do Brasil”, disse.
Mabel denunciou o que considera pressão para que a cidade envie os resíduos a aterros privados. “Isso é oportunismo porque estão vendo que temos interesse em fazer o trabalho direito. Nós pagamos R$ 170 por tonelada nesses aterros. Isso significa R$ 10 milhões a mais por mês. Com esse valor, podemos consertar o nosso.”
O prefeito reiterou a preferência por modelos europeus de gestão de resíduos. “Não sobra nada, nem um litro de chorume, nem um quilo de lixo. Esse é o caminho que queremos seguir”, afirmou. Ele garantiu que, com a tecnologia prevista, será possível tratar inclusive parte do lixo já depositado no antigo aterro. “Todos os dias, diminuímos de 3 a 4 mil toneladas do aterro antigo que serão processadas mensalmente.”
Em paralelo, a Prefeitura adquiriu 12 novos equipamentos para reforçar a operação no local. Já foram iniciadas obras de limpeza, correção dos taludes e drenagem de chorume e gás. Também está em andamento a contratação de uma empresa especializada em monitoramento ambiental e geotécnico e de outra para operar o beneficiamento de resíduos da construção civil.
Enquanto isso, o relatório da Fral Consultoria, empresa contratada para avaliar o aterro em 2022, atesta a viabilidade de operação por mais sete anos, mesmo sem adequações estruturais. “Acredito que até o final do ano já tenhamos estabilizado a situação como um todo”, declarou Mabel.
Apesar das garantias da gestão, o MPGO ajuizou uma ação de execução no valor de R$ 45 milhões contra o Município de Goiânia. A acusação é de operação irregular do aterro desde 2011 e descumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2020 e aditivado em 2024. A ação tramita na 7ª Vara da Fazenda Pública Estadual.
Mabel reconheceu que o aterro foi mal gerido por anos, mas defendeu o empenho atual da gestão municipal. “Tenho muita preocupação com esse aterro, que foi tratado muito mal ao longo dos anos. Mas hoje nós entramos como entramos na 44, como fizemos 8 mil crianças voltarem à escola. Vamos resolver isso também”, concluiu.
O Jornal Opção procurou a Semad após as declarações do prefeito Sandro Mabel. Em nota enviada à reportagem, a Semad justificou que os relatórios de fiscalização têm caráter administrativo e, por isso, não são repassados automaticamente aos responsáveis pelos empreendimentos ao fim da elaboração.
A secretaria reiterou ainda que o documento foi construído com base em critérios “absolutamente técnicos” e destacou que, caso discorde das conclusões, o município tem o direito de apresentar contestação e comprovar eventuais equívocos.
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