Apenas na Ucrânia foram quase 200 pessoas mortas por esse tipo de munição, que não distingue entre militares e civis. No mundo, foram 314 vítimas, sendo quase a metade delas crianças. Os dados foram divulgados pela Cluster Munition Coalition e serão apresentados na ONU.
Pietro Piga – Vatican News
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Em 2024, as bombas de dispersão mataram 314 pessoas no mundo, das quais 193 somente na Ucrânia. Pelo terceiro ano consecutivo, a Ucrânia se confirma como o país com o maior número de vítimas desse tipo de munição, comumente chamadas de bombas de fragmentação. Desde o início do conflito entre Kyiv e Moscou, em fevereiro de 2022, foram 1.200 mortos. Essas são informações do relatório anual divulgado pela Cluster Munition Coalition, uma coalizão global de organizações contra o uso desse tipo de munição. O documento será apresentado na sede das Nações Unidas em Genebra entre os dias 16 e 19 de setembro, durante a 13ª reunião entre países signatários da Convenção sobre Munições de Dispersão.
O alerta
Durante a guerra na Ucrânia, diz o relatório, essas bombas foram usadas por ambos os lados; as lançadas pela Rússia podem ter sido produzidas pela Coreia do Norte, sendo também utilizadas por Pyongyang em operações militares conjuntas. Nem Kyiv nem Moscou fazem parte do tratado internacional contra o uso de bombas de dispersão, em vigor desde agosto de 2010, assim como Mianmar e Síria, os outros países onde essas armas mataram pessoas em 2024 e no começo deste ano. Mas ataques com esse tipo de munição também podem ter sido lançados pelo Irã em Israel (em junho de 2025) e pela Tailândia no Camboja (julho), segundo o estudo divulgado pela HRW.
Outros dados
Atualmente, 111 nações fazem parte do tratado, que nos últimos dois anos contou com a adesão da Nigéria e do Sudão do Sul. Nesses últimos países, mais de 100 quilômetros quadrados de território foram recuperados depois da limpeza de áreas contaminadas por essas bombas. A preocupação, porém, continua, já que os artefatos seguem ferindo e matando civis. As principais vítimas — inclusive dos fragmentos não detonados — são as crianças (42%). O relatório também aponta que a Lituânia se retirou da convenção em 6 de março deste ano — a primeira vez que isso acontece —, manifestando ainda a intenção de abandonar a Convenção de Ottawa sobre a proibição de uso, armazenamento, produção e transferência de minas antipessoais. Bombas de dispersão ainda são produzidas por 17 países, incluindo China, Estados Unidos e Brasil, sendo promovidas e vendidas em feiras internacionais de defesa e segurança.
Apelo pelo fim do sofrimento
Mark Hiznay, diretor associado de crises, conflitos e armamentos da Human Rights Watch e um dos editores do relatório, afirmou que, “embora a convenção tenha alcançado, ao longo de muitos anos, progressos significativos na redução do sofrimento causado por essas munições, civis em todo o mundo continuam a perder vidas e partes do corpo por causa das bombas de fragmentação, inclusive devido a armas usadas há décadas”. Ele chama a atenção dos governos: “Deveriam agir agora para reforçar o estigma contra essas armas indiscriminadas e condenar seu uso contínuo.”