Mais de 300 máquinas agrícolas ocupam as ruas de Iporá, no Oeste goiano, na manhã desta segunda-feira, 16, em protesto contra os altos juros cobrados em financiamentos do agronegócio e pela securitização das dívidas do setor. A mobilização, que segue por tempo indeterminado, é organizada pelos sindicatos rurais de Iporá e Diorama e conta com o apoio de produtores de diversas cidades da região, além da participação de prefeitos e entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).
A principal reivindicação do grupo é a criação de condições mais viáveis para o pagamento das dívidas dos produtores, por meio da securitização – operação financeira que transforma dívidas em títulos negociáveis no mercado. “Não estamos pedindo perdão das dívidas. O que queremos é o parcelamento, a securitização. Queremos pagar, mas com condições reais”, afirmou o ex-prefeito de Iporá e produtor rural Naçoitan Leite.
Naçoitan ressaltou que a alta carga tributária e os juros elevados tornam inviável a atividade agrícola em muitas propriedades. “O governo quer taxar ainda mais o agronegócio. A crise está insustentável. Os produtores estão endividados, sem acesso a crédito e com juros abusivos de até 18% ao ano. Como plantar desse jeito?”, questionou.
Segundo ele, a expectativa para a próxima safra é preocupante. “A perspectiva é péssima. Quem está no campo sabe que não tem condição de pagar as dívidas e, ao mesmo tempo, investir na próxima colheita. E quando o produtor não investe, a cadeia toda para: máquinas não são vendidas, oficinas e postos perdem faturamento, e isso gera desemprego nas cidades”, pontuou Naçoitan.
A manifestação não tem data para acabar. “Vamos continuar aqui até o governo se manifestar. Se até quarta-feira, 18, não houver resposta, vamos endurecer ainda mais. A ideia é montar acampamento e trazer mais produtores de outras cidades”, completou.
O presidente do Sindicato Rural de Iporá, Iron Filho, também criticou o atual cenário de crédito rural. “A cidade e toda a região pararam. Queremos juros menores, porque do jeito que está o produtor vai quebrar. Muitos já estão entrando em recuperação judicial”, afirmou.

Iron destacou que o setor não está pedindo isenção, mas condições para sobreviver. “Hoje, os juros estão acima de 18%. Isso é quase agiotagem institucionalizada. Tivemos um ano passado de crise e, mesmo assim, a tributação continua aumentando. O produtor está pedindo sobrevivência.”
Para o sindicalista, o juro ideal para o financiamento da produção agrícola deveria ser de um dígito. “Precisamos de taxas abaixo de 9% ao ano. O produtor está à mercê do clima, do mercado, de pragas. Se não houver apoio, vamos assistir à maior quebradeira da história do Brasil. O produtor é quem sustenta a alimentação das famílias e movimenta a economia no interior”, alertou.
Cenário financeiro
Dados obtidos pela Jornal Opção junto à Faeg revelam uma queda de 24% na aplicação de crédito rural em Goiás entre julho de 2024 e abril de 2025, em comparação com o mesmo período anterior: de R$ 34,95 bilhões caiu para R$ 26,22 bilhões. A utilização dos recursos operados por bancos públicos – que representam 75% das linhas de crédito – também teve queda de 16% em relação ao ano anterior.
Para o ciclo 2024/2025, o valor total liberado para o Plano Safra foi de R$ 475,5 bilhões, com R$ 16,7 bilhões destinados à equalização de juros. Para 2025, a Lei Orçamentária Anual prevê uma redução para R$ 15,03 bilhões nessa modalidade.
Projeto de Lei
Na tentativa de amenizar a crise, a Comissão de Agricultura do Senado aprovou em maio um projeto que permite a securitização de dívidas contraídas até junho de 2025 por produtores afetados por tragédias climáticas ou reconhecidos em situação de calamidade pública. A medida ainda aguarda avanço no Congresso Nacional.
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