Zezé Polessa encarna a cantora Nara Leão em solo musical dirigido por Miguel Falabella

Zezé Polessa encarna a cantora Nara Leão em solo musical dirigido por Miguel Falabella

Famosos

(FOLHAPRESS) – Não faz nem cinco minutos desde que Zezé Polessa entrou em cena quando olha para o público e diz: “A falta de futuro não tem a menor importância -o problema é a falta de passado”. É o pretexto para revelar a intenção do solo musical “Os Olhos de Nara Leão”.

Na peça, a atriz busca traçar um perfil fiel daquela mulher cuja estatura mediana ressaltou os dentes grandes e separados e que, apesar de vívido apenas 47 anos, ajudou a dar visibilidade a um grupo de músicos que, unidos, formam uma verdadeira seleção nacional: Chico Buarque, Edu Lobo, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Zé Keti, João do Vale, Nelson Cavaquinho e Cartola.

---- Continua após a publicidade ----

“Nara tinha um olhar generoso para a arte”, afirma Miguel Falabella, autor e diretor do espetáculo que estreia dia 10 de outubro, no Teatro Renaissance, em São Paulo. “Estranhamente, tinha a noção da brevidade da sua existência, porque gravou muito e de tudo”, completa ele, que durante três anos gestou uma peça ao lado de Polessa.

Foi dela a ideia de levar para o palco a vida da capixaba Nara Lofego Leão (1942-1989), depois de se empolgar, durante uma reclusão imposta pela pandemia, com o livro “Ninguém Pode com Nara Leão: Uma Biografia”.

Com estilo romanceado, a obra de Tom Cardoso mostra como a menina reclusa, apelidada de “Caramujo” e “Jacarezinho do Pântano”, além de ofuscada pelo brilho do pai e da irmã mais velha -a futura modelo Danuza Leão-, deu a volta por cima e se transformou em uma das interpretações mais influentes e produtivas da MPB entre os anos 1960 e 1980.

“Eu conheci a atividade política de Nara durante o regime militar, mas não sabia um décimo da relação dela com o cinema, as artes plásticas, o teatro, a poesia”, conta Polessa, que intencionalmente adaptar o livro para o teatro, mas queria evitar a monotonia que marca produções biográficas além de driblar a diferença de idade -ela está com 72 anos.

A solução surgiu durante uma conversa informal com Falabella, que entrou no projeto e logo apostou na liberdade artística oferecida pelo teatro para permitir que Nara retorne do passado -ou do futuro- para compartilhar com o público algumas lembranças e reflexões. “Como Nara era uma artista fora da caixa, também abandonamos a caixinha do etarismo para que eu pudesse interpretá-la”, diz Polessa.

A atriz aprofundou seus estudos sobre a cantora. “O respeito que Nara tinha pela singularidade é o que mais admiro. Ela foi uma adolescente triste, calada. Com 14, já faz análise. Por outro lado, desfrutou de uma liberdade concedida pelo pai, principalmente depois que contraiu hepatite e passou dois meses sem ir à escola. Quando voltei, não se encontrava mais, queria tocar violão, fiquei batucando com os colegas no fundo da sala”, conta ela, que evitou imitar o seu jeito de falar ou cantar ao interpretar canções como “A Banda”, “Diz que fui por aí”, “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”, “Opinião” e “Acender as Velas”, entre outras.

Segundo Falabella, Nara foi uma mulher do seu tempo. “Era uma garota da alta burguesia, mas foi a primeira a olhar para além das suas fronteiras, a se interessar pelo morro. Algo totalmente impensável na época, especialmente para uma mulher. Na época, era vergonhoso tocar violão porque era coisa de vagabundo, mas Nara carregava seu instrumento pelas ruas de Copacabana como um ato libertador”, diz o encenador.

Entre tantos perfis possíveis da cantora, Falabella descobriu o fio da meada ao ler um poema do francês Charles Baudelaire, “Os Olhos dos Pobres”, que valoriza a empatia. “O poeta diz ‘voltei meus olhos para os seus, querido amor, para neles ler meus pensamentos’ que, no caso de Nara, exemplifica seu interesse pela cultura do morro, então completamente ignorado pela elite”, diz Falabella, citando uma frase de Nara presente no monólogo: “vivíamos como em um quadro impressionista, no qual os burgueses contemplam o mar”.

Em constante mutação, Nara nunca se deixou rotular ou ficar presa a um determinado gênero: acompanhou o nascimento da bossa nova que acontecia na sala de sua casa, flertou com o Tropicalismo, participou dos festivais da canção, protagonizou o lendário show “Opinião”, com João do Vale e Zé Ketti (além de escolher a desconhecida Maria Bethânia para substituí-la), resgatou compositores antigos, canto de samba-canção, músicas de protesto, rock’n’roll e Jovem Guarda.

“O grande legado de Nara foi ter sido uma mulher com a voz de seu tempo e que gravou verdadeiras pérolas. Não era boa cantora como Elis, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, mas era uma artista surpreendente em suas escolhas, com um olhar sensível para a sua época”, afirma Falabella, que não esconde detalhes deliciosos como o perfil de namoradeira.

“Não é possível dizer que tinha um gosto definido pois foi de Ruy Guerra, com quem se casou, a Ferreira Gullar, passando por Jerry Adriani e Cacá Diegues, que foi seu último marido. Foi uma pessoa que soube viver.”

Zezé Polessa contesta o título de musa da bossa nova colado em Nara pelo cronista Sérgio Porto. “Desconfio dessa fama porque o ambiente da música era perverso a ponto de não deixar-la cantar. João Gilberto dizia que era desafinada, justo a Nara que, quando ouvia uma canção pela primeira vez, logo decorava a letra e desvendava a harmonia”, comenta. “Ser musa é péssimo, é a posição da pessoa que serve apenas para ser admirada. Ela reagiu logo em seu primeiro disco, ‘Nara’, de 1964, no qual era esperado um repertório da bossa nova e ela deu uma banana, preferindo Cartola, Nelson Cavaquinho, Zé Keti.”

Polessa conversou ainda com amigos da cantora em busca de detalhes para sua composição. Marieta Severo contou, por exemplo, que Nara era bem humorada e dificilmente se alterava. Já Chico Buarque lembrou que se descobriu com as verdades ditas por ela, quando poucos tinham coragem para repetir.

“Quando alguma música foi censurada, Nara procurou com razão o ‘Diário de Notícias’, jornal que esteve sob intervenção do governo militar, para falar mal do Exército. ‘Os militares podem entender de canhão, navios, mas não pescam nada de política’, ela dizia, sem grito ou agressão.”

A descoberta tardia de um tumor maligno no cérebro, que provocou fortes dores de cabeça e esquecimento constante, abreviou sua existência, drama tratado com descrição por Falabella em seu texto. Na peça, ela mesma diz “vou poupá-los do horror da doença”. “Isso prova que Nara não era musa, Nara era a música”, diz Polessa.

OS OLHOS DE NARA LEÃO
– Quando Sex., às 21h; sábado, às 19h; Dom., às 17h; Até 21/12
– Onde Teatro Renascença – al. Santos, 2233, São Paulo

A duquesa de Sussex gravou um vídeo passando pela Ponte de l’Alma, em Paris, onde a princesa Diana morreu em 1997. A atitude foi considerada insensível pelos críticos e teria causado grande desconforto a Harry, que vê o episódio como um dos momentos mais dolorosos de sua vida

Notícias ao Minuto | 05:43 – 14/10/2025

Fonte Original

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.